Começam a aparecer as distorções que se seguem à confusa e improvisada
política de suprimento de combustíveis praticada pelo governo federal.
O mercado interno está no limiar do desabastecimento. O consumo está
subindo muito mais rapidamente do que a produção. Para dar conta da
demanda, tanto a Petrobrás como os produtores de etanol estão
acionando as importações. Os primeiros cálculos sobre esse apagão dos
combustíveis, como o denominou a reportagem de Raquel Landim publicada
domingo pelo Estado, preveem um rombo anual de US$ 18 bilhões na
balança comercial.
Esse apagão tem a ver com três razões mais importantes. A primeira
delas vem lá detrás. É o estímulo ao consumo propiciado pelo governo
federal nos dois últimos anos, por meio do aumento das despesas
públicas, decisão que criou renda.
A segunda razão foi a esticada dos preços do álcool hidratado que
empurrou o consumidor que usa carros flex a trocar o álcool pela
gasolina.
Esse aumento do consumo da gasolina está relacionado ainda com um
terceiro fator: a decisão da presidente Dilma de impedir um reajuste
dos preços da gasolina no varejo, supostamente para evitar o impacto
no custo de vida. Esses preços não são reajustados desde junho de
2009, quando as cotações do barril do tipo Brent estavam a US$ 67.
Hoje estão a US$ 123.
Além de estimular o consumo, essa política de achatamento dos preços
dos combustíveis provoca outro efeito perverso, que é o de corroer os
resultados da Petrobrás e, com ele, reduzir a capacidade de expansão
cujos investimentos até 2014 deverão passar dos US$ 224 bilhões.
A escassez de etanol, por sua vez, aconteceu por dois principais
fatores. O primeiro deles foi a quebra de produção de cana-de-açúcar
na safra 2010 do Centro-Sul, em consequência tanto da seca como da
redução dos investimentos. O outro, a decisão dos usineiros de
transformar mais cana em açúcar do que em etanol, uma vez que os
preços internacionais do açúcar permaneceram altamente estimulantes.
A reação do governo à quebra da oferta de etanol foi outra
demonstração de improvisação. Foi ameaçar os usineiros com intervenção
no mercado, com o objetivo de baixar artificialmente os preços. Embora
até agora não tivesse sido levada adiante, essa ameaça foi feita num
momento em que o governo brasileiro se posicionava no Grupo dos 20
(G-20) contra o pleito do governo francês de intervir nos mercados de
commodities agrícolas.
Na semana passada, a Petrobrás fechou o primeiro contrato de entrega
de petróleo proveniente do Campo de Lula (ex-Tupi), que está sendo
extraído ainda em fase de desenvolvimento da área. Mas até agora nem a
Petrobrás nem o governo sabem a que ritmo o petróleo do pré-sal deve
ser produzido de maneira a não provocar novas distorções, seja pela
forte necessidade de investimentos seja para garantir recursos com
exportação.
Um bom começo seria o governo admitir de uma vez que não tem uma
política consistente para a área. E, em seguida, não perder mais tempo
em formulá-la e em colocá-la em prática.
CONFIRA
Efeito coelhinho
Um novo indicador de que o consumo permanece elevado foi apresentado
ontem pela Serasa Experian: as vendas de Páscoa deste ano cresceram
9,1% em relação às do ano passado. Ou seja, a renda do consumidor
continua forte