Os efeitos da crise política nos países árabes aproximaram os
interesses do Brasil e dos Estados Unidos na área de energia, o que
pode resultar em acordos importantes, principalmente em relação à
produção do pré-sal, a serem assinados durante a visita do presidente
Barack Obama ao país no próximo fim de semana.
O governo americano deve fechar um importante acordo de garantia de
fornecimento de petróleo com o Brasil, e é possível que também na
produção do etanol os dois países se aproximem.
Comprar barril antecipado já foi feito no passado recente pela China,
que em 2008 emprestou US$10 bilhões com o compromisso de a Petrobras
exportar 200 mil barris diários por um período de dez anos.
A China hoje, graças a esse contrato, é o principal importador de
petróleo brasileiro.
O contrato de fornecimento, que já está em vigor, só pôde ser assinado
porque a perspectiva de aumentar a produção brasileira é grande e
garante o cumprimento do contrato a longo prazo.
A ideia de os Estados Unidos fazerem essa compra antecipada já vem
sendo pensada pelo governo brasileiro há algum tempo, pois o projeto é
fazer o Brasil exportar o máximo possível de petróleo, para não sujar
nossa matriz energética, onde predomina a energia hidrelétrica e há
programas alternativos de álcool combustível e biodiesel.
Se pegarmos a geopolítica do petróleo, o Brasil está em uma posição
bastante confortável por ser uma democracia estável, não ter problemas
étnicos nem religiosos, e sem conflitos em suas fronteiras.
É um produtor que dá segurança de que enviará o petróleo, ao contrário
dos países árabes sujeitos a toda sorte de imprevistos, e também da
Venezuela, enquanto estiver sob o controle de Chávez, e os países
africanos como Angola e Nigéria.
Para os Estados Unidos essa garantia é fundamental, pois eles estão
com a produção de petróleo caindo, cada vez mais dependente de
importação.
Hoje produzem 7 milhões de barris de petróleo por dia e importam de 18
a 20 milhões.
Para o Brasil é muito interessante fazer um contrato com o maior
consumidor de petróleo do mundo e que vai continuar nessa situação
durante muito tempo.
A importância estratégica está na possibilidade, que já foi feita com
a China, de facilitar investimentos da Petrobras, criando linhas de
financiamento de que ela vai precisar muito na exploração do pré-sal.
Os Estados Unidos têm também muita tecnologia nesse setor, muitas
empresas fornecedoras de bens e serviços. As empresas americanas nessa
área de petróleo têm um mercado muito grande no Brasil, porque cada
vez mais o setor é o que mais investe.
O setor de petróleo representa cerca de 12% do PIB brasileiro, e a
previsão é chegar a 20% em 2020. Um setor importante em que podem ser
feitos acordos é o de segurança ambiental para evitar possíveis
acidentes na exploração do pré-sal.
O especialista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura,
considera que há outro aspecto importante nesses acordos que devem ser
firmados: "Estaremos também quebrando um paradigma no setor de
petróleo, que sempre foi muito estatizado e tem uma visão
antiamericana. Sempre houve o temor de certos setores de que os
Estados Unidos tivessem um interesse ilegítimo em nosso petróleo. Um
contrato comercial forte serviria para mudar essa visão".
Ele sugere que também na produção de etanol poderíamos negociar
contrapartidas, como o fim das barreiras protecionistas para a
exportação do etanol brasileiro para o mercado norte-americano.
Segundo Pires, o setor de etanol no Brasil vem se consolidando através
de uma desnacionalização: a Cosan se fundiu com a Shell; os Biaggi
venderam suas usinas para a Bunge; a Dreyfus comprou a usina Santa
Elisa; a BP (British Petroleum) está comprando usinas de álcool, mas o
curioso é que nenhuma empresa americana petroleira entrou nesse
mercado de etanol.
Seria um mercado interessante para os dois lados, pois os Estados
Unidos hoje já são o maior produtor de etanol do mundo, seguidos pelo
Brasil, mas o etanol deles é de milho, muito caro e compete com a
alimentação.
Segundo o consultor, a notícia é importante, enfim, por representar o
reconhecimento do maior importador de petróleo do mundo da importância
que o Brasil vai ter no mercado de petróleo nos próximos anos.
FONTE: O GLOBO