Os Estados Unidos, sozinhos, fornecerão metade da oferta adicional dos
seus estoques estratégicos. A divulgação da decisão, negociada
secretamente ao longo de algumas semanas, provocou pronta baixa dos
preços do petróleo, tanto em Nova York como em Londres, os dois mais
importantes mercados (veja o Confira). Mas, se o objetivo foi reduzir
os preços, persistem as dúvidas sobre a eficácia dessa decisão.
Em primeiro lugar, o aumento da oferta, de 2 milhões de barris diários
nos próximos 30 dias, parece de longe insuficiente para garantir a
alta do consumo que vem vindo aí com o verão no Hemisfério Norte,
quando cresce o consumo de gasolina e de óleo destinado à produção de
energia elétrica que vai acionar os aparelhos de ar-condicionado. O
consumo mundial de petróleo oscila hoje na altura dos 89 milhões de
barris diários (veja gráfico). A liberação de 2 milhões de barris
diários por um único mês não passa de 2,2% do consumo. Em todo o caso,
essa iniciativa extraordinária passa também a advertência de que as
grandes potências estão em condições de agir, caso seja necessário.
Não ficaram claras as verdadeiras razões para a tomada dessa decisão.
Em princípio, a liberação de reservas estratégicas só deveria ser
feita sob grave ameaça à segurança, situação que não se verifica
agora. A última liberação de reservas estratégicas, por exemplo,
aconteceu em 2005, quando o ex-presidente americano George W. Bush
autorizou a utilização de 21 milhões de barris para atender às
necessidades criadas pela desorganização do parque petrolífero do
Estado de Louisiana, em consequência dos estragos provocados pelo
furacão Katrina.
Autoridades do governo Obama chegaram a mencionar a necessidade de
enfrentar os especuladores que estariam puxando para cima os preços e,
nessas condições, produzindo inflação. Também lembraram ser preciso
enfrentar a falta de determinação da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo em aumentar a oferta para compensar o
estancamento das exportações da Líbia. São argumentos conflitantes. O
primeiro tenta atacar uma suposta alta artificial dos preços; o
segundo, uma redução real da oferta.
Mas a insignificância dos volumes liberados dá a entender que esta
deve ser entendida como um resposta política de fôlego curto do
presidente Obama, que vai perdendo popularidade, num momento em que os
preços do galão de gasolina nos postos de combustível oscilam entre
US$ 3,60 e US$ 3,80, altos demais para os padrões americanos.
Essa intervenção passa, ainda, um recado ambíguo: de um lado, avisa
que as autoridades estão determinadas a agir sempre que a puxada dos
preços colocar em risco a estabilidade da economia; de outro, deixa
implícito que as reservas terão de ser repostas e, lá na frente, se
tornarão fator adicional de demanda.