Energia No ar, o avião a hidrogênio
Política

Energia No ar, o avião a hidrogênio


Hidrogênio multiuso

O avião a hidrogênio, que voará neste mês, é
o novo avanço desse combustível limpo, usado
em carros e nos foguetes lançados ao espaço


Gabriela Carelli

Divulgação
MAIS LEVE, MENOS POLUENTE
Visão artística do vôo do Antares: o próximo passo é utilizar as células de combustível num Airbus de passageiros

Com envergadura de jatinho, mas peso de planador e apenas um assento, um aviãozinho está prestes a alçar vôo – e, com isso, dar novo passo numa revolução energética. Batizada de Antares, a aeronave, que fará seu vôo inaugural neste mês, é a primeira movida a hidrogênio. Sua propulsão é feita por meio da tecnologia de célula de combustível, a mesma que se tornou uma grande aposta da indústria automobilística na produção de carros movidos a energia limpa. A mecânica do Antares é similar à dos carros a hidrogênio. Em vez de um motor de combustão, ele possui um motor elétrico, um tanque de hidrogênio em estado gasoso e a chamada célula de combustível. Abastecida de gás, essa célula produz energia elétrica e libera água em vez de gases poluentes. O fato de essa tecnologia ter chegado aos aviões é um enorme avanço. "O Antares é uma plataforma para o início do uso do hidrogênio na aviação civil", diz o projetista Josef Kallo, do Centro Aeroespacial da Alemanha, que construiu o Antares. Foi a partir dessa aeronave experimental que a mesma instituição projetou o Airbus A320 Atra – um jato comercial dotado de sistema auxiliar de energia abastecido de hidrogênio que já voou em testes. No Airbus, em situações de emergência, o hidrogênio entrará em cena e gerará energia suficiente para manter alguns sistemas vitais, iluminar o avião e garantir a circulação de ar na cabine. Outro protótipo de jato comercial, em fase inicial de estudo, prevê o uso do hidrogênio ainda para mover o avião durante pousos e decolagens.

Colocar um avião no ar é muito mais difícil do que instalar um motor de célula de combustível em um carro. Por isso, o Antares anima a comunidade científica e os especialistas em tecnologia aeronáutica. Diz o engenheiro Gerhard Ett, da Universidade de São Paulo: "No caso do Antares, o hidrogênio mostrou-se um excelente combustível, mais eficiente, mais leve e com menos risco de provocar incêndios. Esse é o prenúncio de uma revolução em vários setores da indústria. O hidrogênio ainda fará parte do cotidiano, assim como as baterias e o petróleo". O hidrogênio está se revelando um combustível viável para variados equipamentos, alguns deles inesperados. A célula de combustível já substitui as baterias convencionais em alguns laptops e celulares. No Japão, ela está sendo experimentada como alternativa às pilhas em brinquedos. Nos Estados Unidos, na Alemanha e no Canadá, o hidrogênio fornece energia a prédios inteligentes e a sistemas de emergência em caso de apagão em setores como a telefonia. "Enquanto um sistema de back-up tradicional mantém as operadoras no ar por quatro horas, o hidrogênio pode garantir a mesma rede pelo dobro do tempo", explica Ett.

A tecnologia de célula de combustível a hidrogênio não é novidade. Ela foi criada em 1839, pelo britânico William Grove. No século passado, começou a ter uso militar e estratégico. A Nasa a utilizou no projeto Apollo, que levou astronautas à Lua. Satélites e submarinos movidos a hidrogênio existem há muito tempo. O motivo de esse combustível não se ter popularizado foi o risco de manipular esse gás, além do alto custo para produzi-lo. Novas tecnologias eliminaram o perigo de explosão e também fizeram cair o preço. Vinte anos atrás, 1 quilowatt gerado por célula de combustível custava 40 000 dólares. Hoje, custa entre 4 000 e 8 000 dólares – menos do que a energia produzida por painéis fotovoltaicos. O resultado é a multiplicação de projetos com essa tecnologia. Um deles é o avião de passageiros capaz de fazer vôos suborbitais, a altitudes acima de 100 000 metros. Para isso, é necessário um avião-foguete que decole horizontalmente, como os aparelhos convencionais. O hidrogênio, que é mais leve que o querosene ou a gasolina, é apontado como o combustível ideal para lançar o avião-foguete com segurança. O futuro parece movido a gás.

Fotos Toru Hanai/Reuters e Koji Sasahara/AP
NO DIA-A-DIA
Laptop e celular movidos a hidrogênio: a carga dura mais tempo do que nos aparelhos que usam baterias convencionais



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