Para salvarem o mundo – e a si próprias, principalmente
–, as montadoras lançam carros minúsculos, mais
econômicos e ecologicamente corretos
Kalleo Coura
Fotos Divulgação |
HORA DO APERTO O iQ, da Toyota, o menor carro do mundo para quatro pessoas. Entre as inovações, GPS com sensor de toque (à dir.) e air bag traseiro |
VEJA TAMBÉM
|
O marketing é o da salvação do planeta, embora a missão mais imediata seja mesmo a de salvar a contabilidade das montadoras. Com as crises que se adensam no horizonte, da ambiental à financeira, os carros ecologicamente corretos e pequenos (quando não minúsculos) foram as estrelas do Salão do Automóvel de Paris. Dos noventa modelos apresentados neste ano, mais de um terço era, se não totalmente elétrico, ao menos híbrido. E os que não eram nem uma coisa nem outra apresentavam sua credencial "verde", exibindo baixos índices de emissão de carbono – caso do iQ, o ultracompacto da Toyota anunciado como o menor carro do mundo para quatro pessoas. Bem, na verdade, três adultos e uma criança, como reconhece a montadora. E todos bem apertados.
O iQ é apenas 29 centímetros maior do que o Smart Fortwo, o modelo da Daimler que é seu competidor direto e, como diz o nome, feito para acomodar dois passageiros. Para aproveitar cada centímetro do seu interior, os projetistas da Toyota reduziram o tamanho do sistema de refrigeração (ele é 20% menor do que o de outro modelo da montadora, o também compacto Yaris) e desenharam um tanque de combustível achatado, com apenas 12 centímetros de altura, que fica embaixo dos assentos dos ocupantes. Para evitar os efeitos colaterais do aperto no que diz respeito à segurança, o minúsculo iQ vem com nada menos do que nove air bags. Um deles é uma novidade na indústria automobilística e uma necessidade incontornável no caso desse carrinho: para evitar um eventual choque contra o vidro posterior, o acessório protege a cabeça dos passageiros do banco traseiro. Além do air bag no volante e de outro para proteger os joelhos do motorista, há dois air bags nas laterais traseiras e dois nas laterais dianteiras. O passageiro da frente tem direito a proteção dupla: o primeiro air bag o impede de chocar-se contra o painel e o segundo, conectado ao cinto de segurança, ajuda a dispersar um eventual impacto no pescoço e na cabeça.
O painel, desenhado de maneira assimétrica para ampliar o espaço interno, traz um indicador que diz quando o motorista deve aumentar ou diminuir a marcha. O sistema leva em conta o grau de pressão sobre o pedal de aceleração e a velocidade do veículo. Isso pode reduzir o consumo de combustível em até 3%, comparando-se o sistema com o de um câmbio normal. O carro conta ainda com um mecanismo "stop-start", que desliga o motor em paradas rápidas (diante de um sinal vermelho, por exemplo) e o religa quando o motorista pisa no acelerador. Um GPS que funciona com sensor de toque é opcional.
Jacky Naegelen/Reuters |
APELO VERDE |
O iQ exibe a menor taxa de emissão de carbono entre os veículos movidos a gasolina: 99 gramas por quilômetro rodado. O carro começará a ser vendido no fim do ano na Europa – por um preço não tão diminuto assim: 12 980 euros. Não há previsão de lançamento no Brasil. Já seu concorrente, o Smart Fortwo (vendido a partir de 8 735 euros na Europa), deve chegar ao país no ano que vem. O carrinho, que de tão pequeno já parecia de brinquedo, agora também funciona como um. Sua versão elétrica, com baterias de íons de lítio, apresenta uma autonomia de cerca de 115 quilômetros. Essa não tem data de chegada ao Brasil.
As marcas que não lançaram novos nanicos no Salão de Paris aperfeiçoaram modelos que já produziam ou acenaram com protótipos. A Fiat exibiu uma versão mais potente, com 160 cavalos, do Fiat 500 – o clássico dos anos 50 que a empresa relançou no ano passado – e dotou-a de cores como o "marrom-Diesel" e o "verde-Diesel", contribuições da grife de roupas italiana. A Ford mostrou um Ka em versão movida a hidrogênio. A Nissan, por sua vez, uma das primeiras a investir no mercado dos compactos, com o Cube, revelou o protótipo do Nuvu (de "new view", com sotaque japonês): também pequenino, também cheio de "apelo verde" (é elétrico e inclui acessórios com material reciclável).
Neste ano, na Europa, enquanto a venda de quase todos os tipos de veículos caiu, a de carros compactos aumentou quase 15%. "Esses modelos realmente fazem diferença na bomba. A economia proporcionada pelo tamanho e pela aerodinâmica de um automóvel se intensifica já a partir de uma velocidade de 50 quilômetros por hora", diz o professor Renato Romio, do Instituto Mauá de Tecnologia. Com o aprofundamento das diversas crises, a tendência é que os nanicos continuem na estrada do sucesso. Tempos apertados, carros idem.
Fotos AP |
CLÁSSICO MODERNO A reedição do Fiat 500, clássico dos anos 50 (no detalhe, o modelo original), ganhou cores da grife Diesel e motor mais potente |