A crise grega se agrava a cada dia, os bancos europeus privados ou
estatais e o Banco Central Europeu estão sobrecarregados com papéis
ruins da Grécia, uma espécie de subprime com dimensões ainda
desconhecidas. Nesse cenário, coube ao FMI injetar recursos e propor
soluções, atendendo a um quase apelo dos governos da zona do euro.
Nada se resolverá sem ele. Dominique Strauss-Kahn vinha tentando
encaminhar soluções possíveis para o governo grego, mas sua saída
criou um vazio exatamente no momento de maior tensão, de rolagem da
dívida grega. Deve ser substituído imediatamente por alguém que tenha
o mesmo perfil técnico e, acima de tudo, conhecimento igualmente
profundo da crise europeia. Christine Lagarde. Não há outro nome.
A apresentação do presidente do BC mexicano, Augustín Carstens, ou de
qualquer país emergente, é pura ficção.
FMI mudou. A crise de 2008 mudou completamente o perfil do FMI. Antes,
sua função principal era socorrer os países menos desenvolvidos. O
Brasil acorreu a ele várias vezes. Na última, com tal sucesso que não
precisa mais dele. Na crise de 2008, foi socorrer os países ricos mais
fortemente atingidos pelo risco de insolvência. Conseguiu aumentar
seus recursos, e está cumprindo o seu papel. Neste momento, o
importante é impedir que a crise da zona do euro se agrave e contamine
o sistema financeiro internacional, retardando a recuperação da
economia mundial.
Nada bom, mesmo. Nada de bom está acontecendo. Nos três primeiros dias
desta semana só há notícias desagradáveis. Indicadores econômicos da
China, divulgados ontem, mostram uma desaceleração na demanda interna
sob o efeito das medidas restritivas do governo que continuam; o banco
central deve aumentar novamente a taxa de juros para enfrentar uma
inflação que passa de 5%. Já se estima, em Pequim, que o PIB pode
recuar de 9% para 7% este ano.
Índia, Brasil... Na Índia, o mesmo quadro. O PIB recuou para 7,8%
(crescia 8,3%) no primeiro trimestre e o banco central que já vinha
aumentando os juros, deve elevá-lo ainda mais nos próximos dias para
conter uma inflação de 8,6%. No Brasil, o mesmo cenário. PIB crescendo
menos, já se prevê 4,5% sob o efeito das medidas do Banco Central e do
governo para conter a expansão da demanda, ainda forte, e uma inflação
de 6,5% que resiste.
Não contem conosco. O que se vê, agora, é os países emergentes
mandando uma mensagem aos países ricos que jogaram o mundo na
recessão: nós aguentamos bem a crise, estávamos preparados, mas não
contem tanto conosco para sustentar a recuperação da economia mundial.
Não vamos passar de 7% e nenhum de nós vai importar mais enquanto a
inflação estiver alta pressionada por um crescimento agora
insustentável. O quadro ficou ainda mais sombrio nesta semana quando
os Estados Unidos informaram que as encomendas à indústria, demanda e
emprego recuaram. Tudo muito cinza e poderia ser negro se o Fed não
estivesse injetando liquidez na economia. Talvez o banco central
americano não tarde a revisar o crescimento do PIB para menos de 3%
este ano. É a herança da crise financeira e da recessão. A retomada
que se esperava, não veio.
Vai durar? Talvez até o fim do ano. A Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico divulgou dados mostrando que o PIB dos 30
países-membros do bloco cresceu 0,5% no primeiro trimestre, um
resultado até bom em comparação com 0,2% do trimestre anterior. É
pouco e a base de comparação é baixa, pois foi o ano em que se saia da
recessão. Os países do Brics até agora estão se saindo bem. Mas estão
dizendo que não contem muito mais com eles.N