O desempenho da indústria em outubro foi pior do que o esperado e sugere freada brusca neste último trimestre do ano.
Igualmente preocupante: se não houver recuperação significativa, o crescimento econômico em 2009, que é projetado em torno de 3%, pode ficar mais baixo.
A opinião pública já havia tomado conhecimento dos sinais de quebra da produção e das vendas da indústria. A antecipação de férias coletivas; as paradas técnicas antecipadas para manutenção de máquinas e equipamentos; as promoções generosas de venda - tudo isso já sugeria que a indústria estava atolada nos estoques de produtos acabados.
Mas os números que aferem sua atividade vieram mais pesados do que os previstos. A queda do Índice de Produção Industrial (ajustado sazonalmente) do IBGE foi de 1,7%, com a agravante de que a maioria dos setores (15 em 27) acusou recuo da produção quando comparada com a do mês anterior.
Assim, não foi apenas o segmento de bens de consumo duráveis (veículos, aparelhos domésticos) que acusou o impacto da crise, com forte retração de 4,7%.
Desta vez, também o de bens intermediários (produtos químicos e metalúrgicos), o de não-duráveis (têxteis, calçados e alimentos) e até mesmo o de bens de capital (máquinas e equipamentos) estão sentindo mais dureza no jogo produtivo.
O governo Lula vinha enfrentando a crise como se o problema fosse a escassez de crédito. Foi por isso que estimulou o aumento dos financiamentos, especialmente no mercado de bens de consumo duráveis.
Esse diagnóstico vai se mostrando equivocado. A queda das vendas e da produção parece ter três causas distintas.
A primeira delas é o relativo esgotamento do mercado. Depois de crescerem 28% em 2007 e 23% até outubro deste ano, as vendas de veículos tinham mesmo de desacelerar, pois o proprietário ainda está pagando seu carro (financiado, em média, por mais de três anos) e tão cedo não voltará às compras.
A segunda causa foi o aumento da percepção do consumidor de que a transferência da crise global para a economia do País e seu orçamento será mais séria. Não vai parar na “marola” esperada pelo presidente Lula.
Enfim, o consumidor parece ter entendido que a recessão nos países ricos e a desaceleração das exportações terão efeitos mais profundos. E, se isso se confirmar, será inevitável a redução do emprego e da massa salarial. É provável que ele esteja se protegendo com uma atitude mais cautelosa aos apelos de consumo.
A terceira causa da retração foi a redução patrimonial provocada pela queda das bolsas e pela desvalorização das cotas dos fundos de investimento, que normalmente levam o comprador das classes médias a adiar uma extravagância ou a realização de um sonho de consumo.
É um tanto precipitado concluir que a recessão já desembarcou no Brasil e que o desempenho da economia em 2009 será pior do que vem sendo projetado pelos analistas (avanço do PIB acima de 3%). Mas esses números vão, por si sós, obrigar o setor produtivo a ser ainda mais pessimista em suas projeções.
Falta saber como reagirá o governo diante da perspectiva de queda da arrecadação e do aumento das tensões políticas.[ ]
Confira
“Brasil mudado” - Dois especialistas da Argentina entendem que o Brasil está mais identificado com os países ricos do que com seus vizinhos.
São eles Jorge Castro, presidente do Instituto de Planejamento Estratégico, e Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nova Maioria, ambos de Buenos Aires.
Para Castro, o País vai enfrentar problemas crescentes com seus vizinhos porque está se descolando deles “para aumentar seu protagonismo global”. Fraga observa que “o Brasil não está preparado para assumir os custos de sua liderança na América Latina”. |