O comércio varejista cresceu 1,1% no mês de agosto, na série com ajuste sazonal, enquanto no mês anterior havia ficado estável.
Não se pode, entretanto, deduzir daí que o comércio ignorou a crise financeira que já começava a se manifestar. O bom resultado se deveu às vendas dos supermercados, que no mês anterior tinham recuado 0,8%. A análise por setores mostra que as famílias reagiram à crise anunciada e, dos dez setores examinados, metade teve queda nas vendas.
Além do pressentimento de que a crise poderia se ampliar, houve em agosto uma mudança no crédito ao consumidor, com juros mais elevados e maior dificuldade para obter empréstimos. Isso se refletiu nas vendas de veículos e de material de construção e na compra de artigos de uso pessoal e doméstico. Já as vendas de supermercados apresentaram crescimento de 1,7%, respondendo por 40% do aumento do total de vendas, o que parece resultar de uma redução dos preços da alimentação e da continuidade da melhoria das remunerações salariais.
É difícil prever como evoluirá o comércio nos próximos meses. A alta da taxa de juros, já bastante notada em agosto, prosseguiu em setembro, enquanto o volume do crédito ao consumo vem reduzindo. Mas, num país como o Brasil, onde as vendas à prestação são tão importantes, um recuo do crédito libera recursos nos orçamentos domésticos para compras à vista de itens não financiáveis.
Por outro lado, se os bancos em geral restringem o crédito ao consumo, os estabelecimentos financeiros vinculados às montadoras tentarão manter seus créditos (com juros mais baratos) para permitir o esgotamento dos estoques de veículos.
Nessa perspectiva não devemos prever queda preocupante das vendas do varejo nos próximos meses, exceto dos bens importados, que, com a desvalorização do real, vão apresentar forte aumento de preços. Até podemos imaginar que as lojas usam a depreciação como meio para reduzir os estoques de produtos comprados do tempo da valorização da moeda nacional, ao mesmo tempo que as famílias procurarão antecipar suas compras natalinas para se precaver contra nova onda de aumentos de preços.
A indústria parece apostar num final de ano ainda bom, mantendo um nível elevado de produção na medida em que consiga crédito suficiente. No entanto, para 2009, o poder aquisitivo da população poderá sofrer uma redução sensível.
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