O começo do fim O lançamento do Volt, da GM, é o primeiro sinal claro de que a
A General Motors celebrou 100 anos de existência na semana passada com uma festa em sua sede, em Detroit, nos Estados Unidos. O fato de completar um século, por si só, já é motivo para soltar foguetes – apesar de o momento ser especialmente difícil para a companhia. Os balanços da GM acumulam um prejuízo de 70 bilhões de dólares desde 2005 e a japonesa Toyota ameaça roubar-lhe o posto de maior fabricante de carros do mundo. A grande atração da festa, contudo, não foi propriamente o centenário da empresa, mas a apresentação do Chevrolet Volt – o carro híbrido com que a GM pretende reverter suas perdas e também antecipar o futuro da indústria automobilística. O Volt já foi exibido em vários salões no ano passado e estará no Salão de São Paulo, no mês que vem. Agora, cravou-se que ele será lançado em 2010, com a pretensão de transformar o nicho dos carros híbridos num segmento de mercado popular. A importância do lançamento vai muito além de qualquer estratégia de marketing. Trata-se do primeiro sinal claro de que a indústria automobilística já contempla o fim da era do petróleo. A princípio, a missão do Volt será desbancar o primeiro carro híbrido a alcançar sucesso de vendas, o Prius, fabricado justamente pela Toyota. Lançado em 1997, o modelo já ultrapassou a marca de 1 milhão de unidades vendidas. O Prius anda prioritariamente com um motor elétrico – quando o motorista precisa de mais potência, um segundo motor, a gasolina, começa a funcionar. Assim como o carro da Toyota, o Volt tem um motor elétrico e outro a gasolina, mas só o primeiro faz o carro rodar. Com ele, é possível percorrer até 64 quilômetros. Ao se atingir essa marca, o motor a gasolina começa a funcionar para ativar um gerador que produz energia e recarrega a bateria do veículo. O Chevrolet Volt é um modelo plug-in, ou seja, sua bateria se alimenta na rede elétrica doméstica – basta ligar um fio na tomada. Apesar do entusiasmo da GM com seu novo modelo, sabe-se que a fábrica ainda não dispõe de toda a tecnologia necessária para produzir um carro elétrico com tudo o que ele promete. O maior problema é a bateria de íons de lítio, uma versão avantajada das que equipam celulares e laptops. Pesando cerca de 200 quilos, ela será a maior e mais cara peça do automóvel. Deverá custar em torno de 10 000 dólares, dobrando o preço do Volt com relação ao dos sedãs convencionais. Estima-se que ele vá custar 35 000 dólares. Os engenheiros se cercam de cuidados para que a bateria não se aqueça além da conta como as dos laptops e tenha uma vida útil de pelo menos dez anos. Não é tarefa fácil. As baterias de íons de lítio disponíveis hoje duram em média apenas um terço disso em equipamentos eletrônicos. "Atualmente testamos a vida útil das baterias carregando-as e descarregando-as continuamente", disse a VEJA Jonathan Lauckner, um dos engenheiros que coordenam o projeto do Volt. Os testes das baterias devem ser concluídos apenas sete meses antes do lançamento do Volt. A General Motors aposta no Volt também para promover uma reviravolta na sua imagem como empresa. Nos últimos anos, o Prius rendeu à Toyota, junto aos consumidores, a fama de indústria ambientalmente responsável – mesmo que ela fabrique também caminhonetes beberronas. Já a GM adquiriu a reputação de pouco amiga do ambiente. Um dos seus carros mais vendidos é o Hummer, um 4x4 usado pelo Exército americano na Guerra do Golfo que virou mania nos Estados Unidos, apesar de rodar apenas 5 quilômetros com 1 litro de gasolina. Com o preço do barril de petróleo nas alturas, as vendas do Hummer não param de cair. A General Motors pretende se livrar do modelo em 2009, vendendo-o para uma companhia menor. Com isso, arrecadará alguns bilhões para cobrir o rombo nas contas e distanciará sua imagem do 4x4 beberrão. Os diretores da GM querem que o Volt lidere uma nova família de veículos com pelo menos dois terços de híbridos, a chegar às ruas na próxima década. Além do Volt, está nos planos lançar versões plug-in de híbridos que já existem no mercado americano, como o sedã Saturn e o 4x4 Tahoe. A GM avalia que, dessa forma, será possível recuperar o tempo perdido no terreno dos carros híbridos ou puramente elétricos. Em meados dos anos 90, a empresa investiu 1 bilhão de dólares para criar o EV1, um veículo elétrico de dois lugares. Foram fabricadas 1.100 unidades do modelo, comercializadas através de leasing. No fim, a GM acabou concluindo que o mercado não estava pronto para veículos desse tipo e destruiu os EV1 – sob protestos de muitos entusiastas desse automóvel. Desde que a GM abandonou o EV1, a concorrência avançou em seus projetos de carros híbridos ou elétricos. A Honda anuncia para 2009 o lançamento de um híbrido supercompacto e com preço bem mais baixo que o do Prius. A americana Tesla Motors já colocou à venda o Tesla Roadster, o primeiro superesportivo elétrico. Com autonomia de 395 quilômetros, o carro alcança 100 quilômetros por hora em quatro segundos. Cada unidade custa 110 000 dólares. "As fábricas que conseguirem produzir carros verdes dotados de bom desempenho a um preço acessível passarão a liderar a indústria automobilística", disse a VEJA o americano Alexander Edwards, presidente da divisão automotiva da consultoria Strategic Vision, especializada em consumo. Essa é a trilha que a General Motors pretende seguir com o lançamento do Volt. Com reportagem de Roberta de Abreu Lima e Thomaz Favaro |
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