GUSTAVO LOYOLA Ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola, atualmente sócio da Tendências Consultoria, afirma que as autoridades americanas saem enfraquecidas com a rejeição, no Congresso americano, do pacote de resgate do setor financeiro. Para ele, o processo de "limpeza" dos créditos sujos do mercado tende a se prolongar e custar ainda mais caro. Loyola foi mentor do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), que a partir de 1995 destinou cerca de R$40 bilhões aos bancos brasileiros.
As autoridades americanas saem enfraquecidas com a rejeição ao pacote? GUSTAVO LOYOLA: Henry Paulson (secretário do Tesouro dos EUA) e Ben Bernanke (presidente do Fed, o BC americano) saem enfraquecidos. E o governo, que a rigor já estava fraco, fica ainda mais enfraquecido. A capacidade de articulação política do governo Bush já estava em baixa e existe ainda um processo eleitoral complicado pela frente. Os próprios republicanos, por sinal, foram os responsáveis pela rejeição do pacote. Eu acredito que isso tenha a ver com a ameaça de derrota eleitoral. Eles são vistos como responsáveis pela crise e temem a piora da percepção política ao salvar bancos com dinheiro dos contribuintes. Sem o pacote de resgate, como fica a capacidade dos EUA de reagir à crise? LOYOLA: O Fed tem agido até aqui caso a caso, com soluções que não necessariamente vão na mesma direção. Por exemplo, decidiu não salvar o Lehman Brothers e, no dia seguinte, salvou a AIG. Antes, havia salvo o Bear Stearns. Alguns deputados americanos dizem que ainda podem salvar o pacote. Se isso não acontecer, a crise tende a se agravar. A capacidade de ação das autoridades ficará limitada. Claro que o Fed e Tesouro continuarão tentando administrar a crise financeira. Perdeu-se, no entanto, a possibilidade de criar um instrumento que permitisse um tratamento mais organizado, conjunto. Foi uma grande frustração, depois de muitas negociações. O pacote seria de grande ajuda. Voltamos para a estaca zero.
Sem o pacote, o que pode acontecer? LOYOLA: O tempo e o custo da solução da crise serão maiores. Com isso, a situação pode se agravar. A crise já está se espalhando e afetando instituições financeiras fora dos Estados Unidos, como Inglaterra e Bélgica. O sistema bancário brasileiro não participou dessas operações e não será diretamente impactado, Mas certamente haverá redução de oferta de crédito no mundo inteiro e também no Brasil. |