Nota-se, atualmente, uma preocupação do governo e das pessoas com o
acirramento da inflação no País. O diagnóstico comum é de que o
problema decorre da demanda aquecida. Para arrefecê-la, os
instrumentos usados são conhecidos. Com o objetivo de desestimular a
expansão do crédito e o consumo, o governo tem lançado mão das
chamadas medidas macroprudenciais, além do aumento da taxa de juros, a
Selic. Diz que também está empenhado em cortar gastos. A essas medidas
se somam os controles de preços administrados. Ferramentas desse tipo
são de fácil aplicação. Decididas em poucas reuniões de gabinete.
Só que, no lado da oferta, outros fatores têm contribuído cada vez
mais para pressionar os custos de produção, que são repassados aos
preços finais. Além da tendência de aumento nos preços de commodities,
pouca atenção tem sido dada àqueles componentes inflacionários que
decorrem do fortalecimento de alguns núcleos de poder econômico.
No setor privado, os grupos de poder que mais se têm fortalecido e
buscado ampliar a sua "fatia do bolo" são os resultantes da crescente
concentração na indústria nacional fabricante de insumos básicos,
imprescindíveis para a indústria de transformação. As inúmeras fusões
e aquisições em vários desses setores reduziram muito a rivalidade
entre os atores do mercado, elevando seu poder de fixação de preços.
Por exemplo, as indústrias siderúrgica e do papel são dominadas por
pouquíssimos grupos empresariais que controlam alguns nichos de seus
respectivos mercados. Para agravar, os produtos desses setores são
consumidos pela indústria intermediária (como a metalúrgica, a de
embalagens, etc.), bastante pulverizada em pequenas e médias empresas,
que os compram em quantidades insuficientes para ampliar o seu poder
de barganha - o que também dificulta a aquisição de similares
importados. Com isso, a indústria intermediária tem de aceitar
passivamente os reajustes nos preços dos fornecedores locais.
Outros grupos de poder do setor privado que se fortaleceram nos
últimos dez anos, e cujas pressões sobre os custos são relevantes, são
os sindicatos dos trabalhadores, principalmente da indústria. As
crescentes pressões exercidas nas negociações coletivas têm resultado
em aumentos forçados de remunerações, superiores aos níveis que a
indústria é capaz de compensar com ganhos de produtividade.
Todos esses custos, ao não poderem ser totalmente absorvidos, acabam
sendo total ou parcialmente repassados ao restante da economia, sob a
forma de reajustes de preços. O alto custo dos insumos básicos e a
remuneração pelo trabalho têm contribuído para a alta nos preços dos
produtos industrializados e, junto com câmbio, para a perda da
competitividade da nossa indústria.
No setor público federal, e nos Três Poderes, nos últimos anos foram
fortes as pressões por aumentos salariais para o funcionalismo, outro
ônus repassado à sociedade na forma de mais impostos ou impedindo que
estes sejam reduzidos. Indispensáveis investimentos em infraestrutura
ficam também prejudicados. Infelizmente, os instrumentos disponíveis
para reduzir as pressões de tantos grupos de poder sobre os preços da
economia não são de fácil manuseio, pois, aqui, pertencem à esfera
política.
No lado da formação dos oligopólios, os instrumentos de regulação têm
sido aplicados pela Seae/Cade. Quanto às pressões dos grupos de
trabalhadores, a promoção da reforma sindical é assunto espinhoso.
Pior ainda, conter a alta de salários no setor público é algo
considerado politicamente incorreto, principalmente para o partido do
governo.
Por isso é mais fácil continuar elevando a taxa de juros e apertando o
crédito do que tentar arrefecer as pressões dos grupos que se impõem
na luta por maiores ganhos, já que a intervenção sobre os mesmos é
tida como muito difícil institucionalmente ou impalatável por razões
políticas. Os perdedores, entretanto, são conhecidos: o consumidor, os
contribuintes e a economia do País.