Medida do tombo Miriam Leitão
Política

Medida do tombo Miriam Leitão


O GLOBO

O PIB do quarto trimestre de 2008, divulgado hoje pelo IBGE, dará a medida do tombo. A economia brasileira, que havia crescido 6,8% no terceiro trimestre, caiu fortemente no último. As previsões oscilam de -2% a -4%. "E ainda não aterrissamos", diz o economista José Roberto Mendonça de Barros. O CSFB divulgou a previsão de que os juros vão cair dois pontos percentuais na quarta-feira.

Mendonça de Barros tinha uma previsão de queda de 2,5% e já está achando que é otimista. O banco CSFB prevê queda de 3%, e uma retração de 1% na economia brasileira em 2009. Para o Credit Suisse, nunca houve momento tão propício para a queda das taxas de juros. Por isso, está prevendo dois pontos percentuais de corte amanhã e mais 1,5 ponto percentual de redução em abril. Os juros chegariam a 9,5%.

José Roberto Mendonça de Barros lembra que no fim do ano passado a economia mundial deu algum sinal de melhora, foi empossado o novo governo americano, foram anunciados novos pacotes econômicos e, por isso, alguns analistas começaram a achar que havia chegado um ponto de estabilização da crise. Mas, agora, a crise voltou a piorar.

A mesma coisa aconteceu no Brasil. Alguns dados positivos na indústria automobilística - que voltaram a se repetir ontem com a divulgação dos números de fevereiro - deram a esperança de que a economia brasileira, depois da parada brusca, estaria vivendo um ciclo de estoques e que, depois disso, chegaria num ponto de estabilização.

- Aqui no Brasil, o argumento é que o salário mínimo vai injetar mais recursos na demanda privada, o gasto do governo manteria algum ritmo de atividade e, o que é melhor, não houve aqui um colapso do crédito. Tudo isso é verdade. Porém, o colapso do comércio internacional está mais intenso do que se imaginava. A exportação de veículos caiu 61%; a de madeira, 56%; a de material elétrico, 44%. O que caiu menos foram os produtos alimentícios, -4%. O Brasil exporta commodities para países ricos em crise e produtos manufaturados, exceto aviões, para países como Venezuela, México, Argentina, África e para o Leste da Europa, todos em crise - diz o economista.

Nos últimos anos, de fato, quem analisa os dados da Unctad vê que o comércio internacional foi uma enorme força puxando a economia mundial. O total de mercadorias transacionadas tinha taxas fortes de crescimento todos os anos. Agora, a Unctad, que tem a previsão mais otimista do crescimento mundial, espera uma queda do volume e do valor de comércio. Mas a grande queda (veja gráfico) é no percentual de crescimento.

A produção aqui para o Brasil também tem números fortemente negativos.

- Apesar da barragem de boas declarações feitas pelo governo, o fato é que o consumo aparente de máquinas e equipamentos estava subindo 60% em setembro e teve uma queda de 11% em janeiro - conta José Roberto.

Consumo aparente é o nome que os economistas dão para a produção, menos exportação, mais importação. José Roberto prevê um PIB negativo também para o primeiro trimestre de 2009. Aqui na coluna escrevi, em 13 de janeiro, que o Brasil estava vivendo uma recessão técnica, que o PIB do quarto trimestre seria negativo, e que o primeiro de 2009 também.

Tudo isso leva ao segundo grande evento da semana: a reunião do Copom. Está claro, por estes dados de atividade, que o Copom vai reduzir os juros fortemente.

- Naufraga a ideia de que há uma inflação reprimida no sistema. Com uma queda dessas, os preços vão ceder. Por isso, o Banco Central tem que ser muito mais agressivo na derrubada dos juros - diz José Roberto.

O número a ser divulgado hoje do PIB seria muito mais assustador se fosse apresentado na maneira americana de fazer as contas. Eles pegam o resultado de um trimestre comparado com o anterior e anualizam, como se aquele resultado fosse se repetir por todos os trimestres. É por isso que a queda deles deu 6,2%. A Coreia, que teve queda de 5% no último trimestre, usando a forma americana, apresentaria uma retração de 17% no PIB. Nós aqui teríamos um número com queda de 10%. Por isso é preferível mesmo ficar com nosso jeito de fazer as contas.

Se o governo se apavorar com os números negativos e produzir um descontrole nas contas públicas, a crise se agrava. É hora de decisões precisas e certeiras.



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