Política
Miriam Leitão Tempo das quedas
O GLOBO
A balança comercial vai continuar negativa, mas melhora no fim de março, começo de abril, quando entra a safra de grãos e serão retomadas as exportações de commodities metálicas. Mas o número que vai sair hoje deve assustar. A produção industrial de dezembro, que será divulgada pelo IBGE, pode ter queda de 10%. É a conta do fim do ano passado chegando.
O saldo negativo da balança comercial de janeiro é temporário, mas não se volta mais ao período dos megassaldos. O economista Joseph Tutundjian, especialista em comércio exterior, acha que a balança comercial terminará positiva entre US$10 bilhões e no máximo US$15 bilhões. O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, vai rever a previsão, que está hoje em US$13 bilhões de superávit comercial, mas acha que não ficará muito abaixo disso.
Os especialistas acham que dois movimentos vão melhorar as contas externas brasileiras. Primeiro, a entrada da safra dos grãos. Segundo, a recomposição dos estoques de matérias-primas que vão elevar as vendas de commodities metálicas.
A produção industrial de dezembro do ano passado, que virá hoje fortemente negativa, também vai melhorar nos meses seguintes. O CSFB aposta em 10% de queda, a MB Associados prevê 9,6%. Seja como for, o número será feio. Mas isso é o resultado do que vimos no passado: queda de produção, férias coletivas, demissões de dezembro.
- Em janeiro, as notícias continuam sendo ruins, mas houve alguma retomada de produção. Mesmo que a produção seja a meio vapor, é melhor que a parada brusca de dezembro. Por isso, pode até haver um número ligeiramente positivo em janeiro - conta José Roberto Mendonça de Barros.
Tutundjian acredita até que a recuperação dos preços das commodities não é episódico, e pode continuar melhorando um pouco. Aliás, o índice de commodities até já melhorou um pouco.
- Os preços tinham subido demais e ficaram artificiais, mas depois caíram demais e também foi uma queda exagerada. Agora, os preços sobem porque ninguém vai deixar de comprar as commodities agrícolas - ninguém vai deixar de comer - e porque os estoques serão repostos e as compras de commodities metálicas vão ser retomadas. Os preços não voltarão ao que eram, mas vão melhorar do fundo do poço onde estavam - diz Joseph Tutundjian.
Mesmo com melhora de preço e de volume de exportação, o primeiro trimestre deste ano deve ser negativo para a balança comercial brasileira. A previsão é do vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, para quem o mês de fevereiro deve ter novo déficit, de aproximadamente US$300 milhões. O resultado só deve começar a mudar, se mudar, a partir de março, com o embarque da soja precoce, plantada no Rio Grande do Sul.
- O que pode mudar em fevereiro é a exportação de petróleo, que não foi tão grande em janeiro. Se ela subir bem, pode ser até que se tenha um superávit pequeno na balança comercial. Mas a previsão é de déficit. Isso só deve mudar em março ou abril, com a exportação de soja e a diminuição nas importações - explicou Castro.
Ele está convencido de que o que produziu o superávit de US$127 milhões na última semana de janeiro foi a medida que o governo adotou, de exigir a licença de importação. Mas isso não resolve a tendência que é a de resultado negativo no primeiro trimestre.
- No fim de março, começo de abril, a safra de soja e de outros grãos e alimentos começa a ser exportada. O auge é maio e vai até agosto. Nesse período, a balança comercial deve ficar mais positiva - diz José Roberto Mendonça de Barros.
O governo deve ficar mais calmo com os números negativos que estão saindo do forno. Alguns referem-se ao passado, como a produção industrial. É bem verdade que ainda não se tem qualquer garantia de uma recuperação da indústria nos próximos meses, apenas uma redução da queda. Em relação à balança comercial, está claro que não haverá mais a volta aos supersaldos como os de US$45 bilhões, de 2007, mas o déficit de janeiro não é tendência, os números positivos virão, sem precisar de medidas estabanadas, como a que foi anunciada na semana passada, de volta da licença prévia de importação.
Outros países também estão colhendo péssimos números nesta virada de ano. A China, que tinha crescido 13% em 2007, quando chegar o resultado do último trimestre de 2008, deve ter um crescimento mínimo. Será mascarado pelo crescimento total do ano passado, que continuará alto, mas o resultado do último trimestre será de quase nenhum crescimento, segundo a revista "The Economist". O PIB do Japão pode ter caído 10% anualizado - a mesma forma como os Estados Unidos contabilizam. Cingapura pode ter caído 17% e a Coreia do Sul, 21%. Tudo anualizado, segundo a revista inglesa. No comércio internacional desses países, outra hecatombe. As exportações japonesas caíram 35% em dezembro em comparação com o mesmo mês do ano anterior. China teve queda de 21%, Cingapura, de 20%. Vietnã, com queda de 45% nas exportações em janeiro.
Essa é uma temporada de números ruins provocada pela queda abrupta da economia no último trimestre do ano passado, após a quebra do Lehman Brothers e o episódio de pânico financeiro que se seguiu. Em vez de se apavorar, o governo brasileiro deve se preparar para atravessar o vale.
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