A principal certeza que os portugueses têm para 2013 é que não será um bom ano. Os votos de “Feliz 2013!” foram rapidamente substituídos por “Boa sorte para 2013...”, tudo levando a crer que este ano ainda será pior do que o anterior. O desemprego atingirá novos limites, os cortes adicionais nos salários e os impostos mais elevados aprofundarão a espiral recessiva, fazendo com que o afundanço do país suceda de forma ainda mais acelerada. Nada animador, portanto. Mas se a continuação da tragédia é assim tão evidente, o que nos impede de sair dela?
Neste momento, poucos querem o presente Governo. Embora não esteja desejosa de eleições, a opinião pública já percebeu que, com esta receita, não vamos lá. O Presidente da República também deixou de querer este Governo e o seu discurso representou uma espécie de acordar para a realidade que até agora lhe tinha passado ao lado. O PS, por seu turno, também já começa a pensar no novo ciclo, repetindo mesmo nas últimas semanas que se encontra pronto para governar.
No entanto, diria que chegamos a um momento em que a “abtenção violenta” tomou conta do centro político, sendo particularmente evidente nos atores que podem alterar o rumo do que se está a passar. Como todos sabemos, a gestão dos ciclos políticos é feita de forma cautelosa por cada um dos atores que nele se move. Um erro pode ser fatal. Mas o elevado risco político do momento atual é proporcional à responsabilidade, coragem e determinação que se exige. E os últimos dias foram prodigiosos a demonstrar que o estranho alinhamento entre Cavaco e Seguro deixaram o país seguramente encavacado.
Depois de considerar que todos os esforços devem ser concentrados no crescimento da economia, que a espiral de recessão torna o equilíbrio das contas públicas difícil de alcançar, que a receita de austeridade do Governo falhou e das “fundadas dúvidas” sobre a “repartição dos sacrifícios”, o que fez Cavaco com o Orçamento de Estado? Aprovou-o, enviando-o no dia seguinte para o Tribunal Constitucional. Absteve-se assim de exercer uma competência, chutando para o futuro a resolução do problema. É toda uma atitude... No que ao secretário-geral do PS diz respeito, o seu posicionamento não foi menos caricato em todo este processo. No final de Novembro, Seguro recusou associar-se à iniciativa de alguns deputados do seu partido e do Bloco no sentido de pedir a fiscalização sucessiva do Orçamento. A razão então apontada: “É no terreno político que continuarei a lutar contra este orçamento” (?!?). No entanto, um mês depois, dá o dito por não dito e associa-se ao pedido de fiscalização sucessiva de Cavaco. Comentários para quê?
Como bons jogadores cautelosos, o Presidente da República e o líder do maior partido da oposição são apaixonados pelos “nins”. Sublinham o desastre da receita da troika, mas continuam a defender o seu cumprimento. Consideram que é um mau orçamento, mas preferem questionar a sua constitucionalidade com jeitinho, para não o ferir. Jogam à defesa, acenando com o poderoso argumento de “não acrescentar à crise económica uma crise política”. No entando, no meio de todas estas jogadas, procuram salvaguardar-se mais do que o país. Preferem aguardar que o Governo caia de podre, a tomar desde já uma iniciativa determinante para por fim à tragédia em curso.
A boa notícia no meio de tudo isto é que, iniciando-se agora um ano que promete ser ainda pior do que 2012, de uma coisa podemos ter a certeza: este será um ano de mudança de ciclo político. Com o desgaste a que se tem sujeito, com a coligação por um fio e com as autárquicas em Outubro, as hipóteses deste Governo sobreviver até à próxima passagem de ano são muito reduzidas. 2013 será certamente pior do que 2012, mas dificilmente teremos um novo governo pior do que o atual.
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
(Imagem: Presidência da República)
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