Política
O Senado entre o acordo e o suicídio Villas-Bôas Corrêa
JORNAL DO BRASIL
RIO - Salvo imprevisto de última hora, como incêndio no porão ou entupimento no banheiro com os desarranjos intestinais de senadores, a crise do Senado entrou em transe e ou alinhava uma trégua para tentar fazer as pazes com o eleitor desencantado, a rilhar os dentes de indignação ou puxa o gatilho para o suicídio com a bala no coração.
Os muitos nós de desacertos entre aliados, o troca-troca de lado na miudeza dos recursos encaminhados pelos senadores do PSDB e do Democratas ao Conselho de Ética – um exausto substantivo, usado até o abuso e em vão nos debates do Senado, em espetáculo para a platéia vazia – contra o arquivamento de três denúncias e duas representações pedindo a abertura de investigação contra o presidente José Sarney (PMDB-AP), que dependem dos votos do PT.
A oposição adverte o governo que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal se as ações forem engavetadas. O que é provável e aumenta a agonia, pois o PT já recebeu todos os recados do presidente Lula e da candidata, a ministra Dilma Rousseff, que a disciplina partidária deve ser respeitada e o apoio ao presidente Sarney, neste transe, é um compromisso que precisa ser mantido.
O PSOL. que não tem nada a perder, avisa, com o rosto crispado, que ingressará com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do presidente, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), de arquivar 11 pedidos de investigação sem consultar ninguém.
O presidente Lula, com as cautelas depois de tantos tropeços, manteve o apoio ao presidente Sarney, com o enquadramento nas regras regimentais. Advertiu que "não se pode, a cada denúncia, tirar de um político o mandato que ele conquistou com o voto". Antes, a investigação deve ser cautelosa, garantindo o pleno direito de defesa. Mas, colocou as grisalhas barbas de molho, ressalvando que não cabe a ele dar palpite, pois "o Senado tem maioridade e instrumentos para fazer as investigações que entender que deva fazer".
Mas, entre a meditada declaração aos repórteres e o jogo nos bastidores, a distância dá uma volta no mundo. E o PT está sendo enquadrado para reconhecer a prioridade do partido, que é a eleição da ministra Dilma Rousseff, que esbarra na filiação praticamente resolvida da senadora Marina Silva (PT-AC) ao Partido Verde, para o provável lançamento da sua candidatura à Presidência da República, em 2010. O nome da senadora não foi ainda incluído em nenhuma pesquisa de tendência de voto. Mas, a ex-ministra do Meio Ambiente e militante na luta contra o desmatamento da Amazônia deve ter um potencial de votos entre os que se preocupam com o desenvolvimento sustentável e com as motosserras que devastam a cada ano áreas maiores que muitos estados do Nordeste e do que as das capitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Com a ênfase do seu temperamento, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), com vaga cativa em todas listas de possíveis candidatos à presidente ou a vice, foi categórico: "Uma candidatura de Marina Silva implode a candidatura de Dilma".
Com uma programação rica em alternativas, o Senado enfrentará o desafio de dar a volta na crise com qualquer solução negociada, antes que senadores e deputados se dispersem pelas suas bases para a caça ao eleitor esquivo, envergonhado, com o estômago embrulhado com a catinga que exala o pior Congresso de todos os tempos. Com exceção das ditaduras, quando são fechados, como no Estado Novo de Getúlio Vargas, ou mantidos abertos para a humilhação dos 21 anos da ditadura militar.
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