A cada nova derrota nos últimos anos, avolumam-se os comentários a sublinhar o declínio de um partido que até há poucos anos atrás era considerado um verdadeiro caso de estudo a nível europeu. Sim, vale a pena recordar que o Bloco era considerado um bom exemplo de como setores tão diferentes da esquerda radical se tinham conseguido entender, transformando-se numa nova esquerda que, com um nova postura e agenda, conseguia ir buscar muitos votos ao centro-esquerda. No último artigo sublinhei o que pode ter contribuído decisivamente para o atual momento difícil no Bloco. Neste procurarei sobretudo destacar o impacto interno destes momentos difíceis.
Em situações de crise, as forças políticas tendem a reagir procurando não perder tempo com grandes reflexões internas. Não querendo demonstrar ainda mais fragilidade perante o exterior e sobre a base militante, as direções partidárias acabam por querer rapidamente virar a página, procurando seguir em frente com base no pressuposto de que se trata de um mau momento devido a causas conjunturais. Tende-se a desvalorizar as críticas externas porque as mesmas apenas servem para enfraquecer ainda mais o partido. Por seu turno, os setores internos que se lançam em críticas aguçadas rapidamente começam a ser olhados com alguma desconfiança. Em casos extremos, quando começam a surgir saídas do partido, estes setores mais críticos começam inclusive a ser considerados dispensáveis, uma vez que lá no fundo, “só faz falta quem cá está”.
Ou seja, no preciso momento em que o partido mais necessita de se abrir à sociedade, ouvir as suas críticas, ter todas as portas abertas para que vozes diferentes lhe ajudem a fazer uma boa reflexão, existe uma quase natural tendência de fechamento. O nervosismo na organização leva tipicamente a considerar que a candidatura às últimas eleições até era boa, mas sofreu de azares, má imprensa e fatores conjunturais que determinaram o seu não sucesso. Considera-se também que o programa era bom, mas que algumas linhas menos claras levaram a que não fosse suficientemente atraente para o eleitorado. A linha programática tende a endurecer, considerando-se que a queda eleitoral se deve sobretudo a algum reformismo interno e algumas aproximações políticas menos claras.
O partido tende deste modo a entrar num processo de algum isolamento. E o Bloco não tem conseguido escapar a este tipo de tendência quase natural. Por um lado, apesar de o tentar disfarçar, desconfia cada vez mais de todo o tipo de soluções que não partam do seu interior e até dos seus órgãos dirigentes. Por seu turno, a proximidade a movimentos sociais, a outras correntes de opinião na sociedade, ao meios académico ou até a outras forças políticas tende naturalmente a aumentar profundamente. Se em tempos a diferença de outros movimentos e outras linhas de pensamento era vista como uma oportunidade, agora passa a ser vista com cautela.
E tudo começa a servir para justificar o referido isolamento. Considera-se impossível dialogar com os movimentos A e B porque, algures no seu programa, defendem algo inadmissível. A personalidade C e o fulano D passam também a ser de pouca confiança, uma vez que em tempos expressaram posições duvidosas. E, ao mesmo tempo que se sublinha o discurso de abertura ao diálogo com outras forças políticas, o sentimento interno é que proximidades aos fulanos do partido E “nem pensar”, os do partido F são pouco consistentes e os do partido G são pouco confiáveis.
De forma mais ou menos caricaturada, o Bloco atravessa por muitos dos desafios acima identificados. Compete-lhe agora decidir, neste momento chave da sua existência, como quer reagir a esta natural tendência de algum fechamento ao exterior. Aprofundá-la? Ou contrariá-la de imediato, avançando rapidamente com um processo de abertura ao exterior. É sobre esta necessária reação que escreverei no próximo artigo.
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
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