Do Correio Braziliense
Investimento e PIB avançam em 2013
Autor(es): ROSANA HESSEL
Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, crescimento será destravado no próximo ano com ampliação da capacidade das empresas
São Paulo — O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, é um otimista declarado em relação ao crescimento da economia brasileira mesmo com a surpresa do pibinho de 0,6% no terceiro trimestre. "Apenas reduzimos nossas projeções de alta do Produto Interno Bruto (PIB) para 1%, neste ano, e 3,5%, em 2013. Antes, eram 1,5% e 4% (respectivamente)", afirma.
Padovani discorda da teoria de que o governo abandonou o tripé da política macroeconômica: câmbio flutuante, controle fiscal e controle da inflação. No máximo, "há uma flexibilização" por conta da conjuntura atual. Ele acha que o governo adotou a agenda correta e o choque de investimento está por vir, o que será a marca da presidente Dilma Rousseff. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Brasil cresce pouco pelo fator externo ou porque as medidas intervencionistas do governo tem afugentado os investidores?
Existem três visões no mercado. Acho que todas estão corretas e elas explicam por que o país teve essa desaceleração. A primeira é que houve um choque externo, com muita incerteza em relação a Europa, a China e aos Estados Unidos. O mundo ficou mais cauteloso e postergou decisões de consumo e investimento. A segunda, que os investimentos estão em queda devido às incertezas externas e às dúvidas regulatórias aqui no país. A terceira versão, a que mais acredito, é que o Brasil cresce pouco por causa desses dois fatores, mas, principalmente, porque houve uma contração muito forte no crédito.
O que vai ser necessário para uma retomada? No caso do PAC, o ritmo ainda é lento...
Um aspecto fundamental foi a percepção do governo e da sociedade de que somente investimento público não resolve. É necessário criar um ambiente regulatório adequado. A gente pode até dizer que o processo é lento, mas o importante é que o governo mudou a agenda e priorizou o investimento privado. O governo avançou em direção a uma agenda econômica correta. Sou palmeirense e continuo otimista no futebol e na economia, apesar de reduzirmos as projeções de alta do PIB de 1%, neste ano, e 3,5%, em 2013. Antes, eram 1,5% e 4% (respectivamente).
Fala-se que o governo abandonou o tripé da política macroeconômica. Isso compromete a confiança do mercado?
É muito forte dizer que o Brasil está abandonando o tripé. No máximo, há uma flexibilização por conta de um contexto específico. Houve uma desaceleração muito forte neste ano da economia brasileira, que surpreendeu tanto o setor público quanto o privado. Nesse ambiente, o governo não reduziu os gastos e o resultado fiscal foi pior. Mas isso é conjuntural. O governo vem, há 13 anos, buscando e alcançando superavits nos resultados primários.
Mas há artifícios contábeis para que esse superavit seja alcançado, como os dividendos de estatais e o abatimento dos desembolsos do PAC...
Isso é criticado e, nesse caso, seria necessária maior transparência fiscal. Eu sou defensor disso sempre. Agora, não dá para dizer que há retrocesso.
O governo não vem apostando no câmbio para estimular o crescimento, principalmente as exportações?
O câmbio está mais fraco, mas não porque o governo está colocando ele lá e sim pela conjuntura econômica. O dólar deve fechar, neste ano, na casa de R$ 2 e voltar para R$ 1,90, em 2013. Não chegará a R$ 2,30 porque a economia deve crescer em um cenário adverso e o país vai atrair mais capital estrangeiro. Não vejo alteração na atuação do governo desde a mudança do regime cambial. No caso de juros, a terceira perna do tripé, é a mesma história. O BC continua operando a política monetária olhando a desaceleração econômica e o risco inflacionário.
A inflação vai ficar sob controle apesar de pressões como salário mínimo e reajuste dos combustíveis em 2013?
O que vai ajudar a conter a inflação em 2013 é a redução de impostos, como a desoneração da energia elétrica. A inflação de 2013 não preocupa muito, mas haverá uma pressão maior em 2014. A taxa deve rodar entre 5% e 5,5% no ano que vem e a taxa básica de juros (Selic, hoje em 7,25% ao ano) deverá voltar a subir no terceiro trimestre.
A presidente Dilma conseguiu imprimir a sua marca?
A marca dela será a atração dos investimentos privados, a agenda de regulação ou a de investimentos em infraestrutura. Ela criou muito barulho em relação à redução da taxa de juros. Mas quando se olha os dados, os juros vêm caindo há dez anos. A trajetória era clara.
Ela vai conseguir despertar o "espírito animal" do investidor?
Vai despertar, lentamente. O investimento está travado no Brasil há muito tempo. A taxa de investimento em relação ao PIB no país chegou a bater 25% nos anos 1970, mas há 20 anos oscila entre 15% e 20%. Dilma vai fazer com que o investimento volte a um patamar de 23% do PIB em cinco anos. No longo prazo, ela vai ficar marcada não como a mãe do PAC, mas como a mãe do investimento. Estamos vivendo um momento histórico. Há muita liquidez no mercado e falta de oportunidades.
O país não corre o risco de perder essa oportunidade? A liquidez começa a ser direcionada a países vizinhos...
O que ajuda o Brasil é que a vizinhança não está tão boa assim e a crise europeia deverá ser longa. No médio prazo, o Brasil, que é uma das maiores economias do mundo, estará no centro das atenções. Não há muitos Brasis por aí. A questão é saber se a gente vai conseguir caminhar tão bem quanto os outros países.
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