Selic, um ano depois - EDITORIAL FOLHA DE SP
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Selic, um ano depois - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 04/09


Taxa básica da economia chegou a 7,5%, menor patamar da história; terreno conquistado com juros baixos precisa ser preservado



A julgar pelo comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), está no fim o ciclo de cortes na taxa básica de juros da economia. A redução de meio ponto percentual que levou a Selic a 7,5%, nível mais baixo da história, pode ter sido a última de uma série iniciada em agosto de 2011.

Ao cabo de um ano, o Banco Central diminuiu os juros básicos em cinco pontos -e a partir de agora, segundo o Copom, novos cortes, se houver, deverão ser conduzidos com a "máxima parcimônia".

A estratégia adotada pelo BC nesse período invalidou o argumento clássico segundo o qual os juros no Brasil não poderiam cair a níveis mais razoáveis sem desestabilizar a economia.

Teve papel importante nesse resultado o cenário externo de forte contração -que levou o BC a projetar um quadro de desaceleração interna, com redução dos riscos inflacionários de curto prazo.

As incertezas sobre a retomada do crescimento não foram ainda debeladas. O PIB do segundo trimestre mostrou nova queda dos investimentos, e o crédito ao consumo já não desempenha o mesmo papel impulsionador do passado.

Nesse quadro, o inédito patamar de juros é estímulo importante, que se fará sentir ao longo do tempo.

Apesar de arrefecer, a inflação permanece em nível mais elevado do que o desejável. O IPCA deverá superar 5% neste ano, em razão do choque nos preços de alimentos ocasionado pela seca nos EUA. As projeções apontam para 5,5% ou mais em 2013 -ante a meta oficial de 4,5%. A gestão austera do orçamento público é ainda mais necessária nesse contexto.

A redução dos juros deve ser comemorada. Como a taxa Selic serve de base para o rendimento das aplicações financeiras e o custo dos empréstimos bancários, se permanecer baixa por longo período -o que ainda é incerto- os efeitos na economia brasileira serão benéficos e palpáveis.

Atualmente, cerca de 80% da riqueza financeira nacional permanece na zona de conforto de papéis públicos e outros investimentos de curto prazo, alheia ao empreendimento e à produção. Com o baixo rendimento provocado pela queda dos juros, é possível que esse perfil seja alterado.

Descontados inflação, impostos e taxas, o retorno da maioria das aplicações conservadoras no Brasil já está perto de zero.

Para as empresas, o universo de projetos mais rentáveis que o juro básico será maior, ainda mais se houver medidas capazes de atrair o setor privado para projetos de longo prazo. A redução do ganho financeiro também estimula o empresariado a priorizar a competitividade e a inovação.

O juro baixo tem, portanto, um efeito dinamizador importante. No caso brasileiro, vai além do impacto de curto prazo no PIB. Por isso, tal como a dívida pública cadente, é preciso criar condições para preservar a expressiva mudança de patamar da taxa básica.



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