Pode parecer que não, mas Lula fez mais uma de suas enormidades ao pré-anunciar ontem que o Brasil vai comprar os caças da França. Ora, coisas assim ou são anunciadas oficialmente ou não são. Não existe uma decisão preliminar, uma pré-compra. Os caças entraram no grande acordo militar com a França, que inclui helicópteros e cinco submarinos, um deles nuclear. Ao longo de duas décadas, fala-se de uma bolada e tanto de dinheiro: ao todo, são R$ 37,5 bilhões (cerca de 12,5 bilhões de euros) 6,7 bilhões dos submarinos; 1,8 bilhão dos helicópteros e 4 bilhões dos caças. Há algumas estranhezas nisso tudo. E uma monumental conversa mole.
O país está devidamente informado a respeito? Claro que não! “Ah, Reinaldo, são assuntos militares; é preciso mesmo certo sigilo”. Bobagem! Não para o que está sendo comprados. Notem que os americanos e os suecos também estavam na parada, oferecendo os seus respectivos aviões. A própria Aeronáutica ainda não fez seu relatório afirmando que o Rafale, francês, é melhor para o Brasil do que o F-18, dos EUA, ou o Gripen, da Suécia. Se a Força não havia terminado o seu trabalho específico, o que determinou a escolha? Pode até ser que ela recaísse mesmo sobre o Rafaele, mas por que desprezar a formalidade? O que atrasou o trabalho da Aeronáutica, se é que atrasou? E o que determinou que a decisão fosse tomada mesmo assim?
Mas curiosa mesmo é a contratação da Odebrechet, sem licitação, para construir obras de infra-estrutura: estaleiro e base naval. Vão sair pela bagatela de R$ 5 bilhões. E por que não licitação? Segundo a versão oficial, sabe-se lá por qual estranha razão, essa teria sido uma exigência dos franceses… É mesmo? Quer dizer que eles só fariam contratos da ordem de R$ 38 bilhões se uma empreiteira em particular cuidasse daquelas obras? Uau! Mais um pouco Sarkozy exigiria que todos comprássemos CDs de Carla Bruni ou que Lula lesse Voltaire no original! Agora será assim: para mandar a Lei de Licitações para o lixo, basta o vendedor exigir. Eh, bem, nunca antes naquelepaiz um governo amou tanto uma empreiteira destepaiz, né?
Como é mesmo? Caracterizando o “nacionalismo” da “esquerda brasileira”, escreveu Olavo de Carvalho: “o nacionalismo que ostentam é de um tipo peculiar, desde o ponto de vista ideológico. É um nacionalismo seletivo e negativo, que enfatiza menos o apego aos valores nacionais do que a ojeriza ao estrangeiro - e mesmo assim não ao estrangeiro em geral, como seria próprio da xenofobia ordinária, mas a um estrangeiro em particular: o americano.” Avancemos.
Ao justificar o acordo para a compra de armamentos franceses, Lula deu a entender que precisamos de aviões, submarinos etc por causa do petróleo do pré-sal — e para proteger a Amazônia! É tudo tão tristemente constrangedor, não é? O pré-sal, como sabem, é aquele pós-paraíso, que vai nos transformar na maior e mais rica nação de todo o mundo mundial… Um dia, né? E, nesse dia, que virá um dia, precisaremos de caças e submarinos para nos proteger… Sei lá o que Lula imagina. Será que alguém arrancaria petróleo sem que a gente percebesse? Alguém tentaria danificar a plataforma? Mas quem? O companheiro não sugere um atentado terrorista ou coisa do gênero. Nada disso! Talvez sejam aqueles mesmos que, na prefiguração lulesca ao menos, ameaçam a Amazônia: uzamericano!!!
Os brasileiros podem ficar seguros: o petróleo que ainda não temos está devidamente protegido pelos submarinos que ainda não existem e pelos caças que ainda serão construídos. É evidente que um país como o Brasil tem de dispor desses equipamentos e deve ter Forças Armadas com tecnologia de ponta. Um país continental, com a complexidade do Brasil, pede esse apuro, tenha ou não petróleo no pré-sal. De resto, a disposição de comprar esses equipamentos antecede em muito as “descobertas” publicitárias de petróleo.