Remédio vencido - RUBENS RICUPERO
Política

Remédio vencido - RUBENS RICUPERO




FOLHA DE SP - 12/12/11

Artifícios de crédito e proteção podem prolongar a agonia, mas não evitarão a morte da indústria. E sem indústria, não haverá integração


Estimular o crescimento mediante consumo puxado por crédito e rebaixa de impostos é remédio velho que produz cada vez menos efeito. Funcionou em 2009 porque as circunstâncias eram outras. Agora, apesar de consumo, emprego e salários em alta, a indústria estagnou ou se contrai.

Parcela crescente da demanda interna vem sendo atendida por importações, sobretudo chinesas. Contra isso, excitar o consumo vai apenas produzir mais importações e empregos na China. O consumo já representa 66% do PIB, quase como nos EUA. Em contraste, a taxa de poupança não passa de 17% e a de investimento, de 19%. Existe algo profundamente errado em política que se concentra no consumo próximo do teto e descura a desmilinguida poupança e o frouxo investimento.

O x do problema, que essa política não resolve, é a perda de competitividade da indústria, convertida em importadora. A fim de criar a ilusão de crescimento, insiste-se em vender de qualquer jeito automóveis que atravancam e poluem as ruas e reduzem quase a zero a mobilidade urbana. Depois de abrir mão de todas as indústrias de ponta “eletrônica, telecomunicações, biotecnologia, química fina” nos agarramos em desespero à indústria automobilística, sem exigências de melhorias ambientais ou de desempenho.

O mesmo ocorre na exportação de manufaturas. O Brasil só tem na prática um grande mercado para produtos industriais, a Argentina, que absorve 40% de nossas vendas. Para a Argentina é igual: o mercado brasileiro adquire 40% das suas exportações manufatureiras. O pior é que hoje os automóveis representam 45% desse comércio: como os demais setores estão sendo ocupados por produtos chineses, a única coisa que sobra são os carros.

Esses resistem não por serem competitivos, mas porque o comércio automobilístico é administrado por cotas manipuladas pelos governos e protegidas da competição. De nada adiantará aprofundar ainda mais a reserva de mercado, substituindo a reserva nacional por uma binacional, que é o que se vem fazendo. A solução é reconhecer que a indústria dos dois países sofre de sério problema de competitividade e precisa ser revigorada.

Não há mistério sobre as raízes do problema: juros, custo do capital, câmbio adverso e volátil, impostos excessivos, folha de pagamentos sufocada por penduricalhos, falta de flexibilidade no mercado de trabalho, pouca inovação, excesso de burocracia, infraestrutura sofrível etc. Por que não atacar essas raízes usando os 74% de maioria de que dispõe o governo na Câmara e no Senado? Se não serve para isso, para que serve o presidencialismo de coalizão, além de produzir escândalos e corrupção?

Artifícios de crédito e proteção podem prolongar a agonia, mas não evitarão a morte da indústria. E sem indústria, não haverá integração. Alguém imagina que se possa vender aos sul-americanos ou comprar deles as mesmas commodities em que somos competidores? É possível nos integrarmos com a Argentina na base de vendermos soja e carne bovina uns aos outros?

Ninguém se iluda: sem indústria, a integração acaba. E não haverá indústria sem a conquista da competitividade e da produtividade.



loading...

- Celso Ming -a Ubdústria Baqueia
 O Estado de S.PauloNos últimos três anos, o governo Dilma acreditou em que estivesse adotando as melhores políticas de incentivo à indústria. Os resultados foram medíocres. Em 2011, a indústria cresceu apenas 0,3%, seguido de desempenhos...

- Parece Que Foi Ontem Jose Márcio Camargo
O Estado de S. Paulo - 15/02/2012 Após forte crescimento em 2010, a produção industrial estagnou em 2011, e o nível de produção da indústria brasileira permanece abaixo do atingido em 2007. Com a estagnação da indústria, o PIB da economia...

- Carros De Sobra - Miriam LeitÃo
O GLOBO - 20/01/12 Há carros sobrando no mundo. A indústria automobilística mundial está ociosa em 20 milhões de veículos. Esse é o número de carros que podem ser produzidos mas não há compradores. O número é cinco vezes o mercado brasileiro,...

- Volta Ao Passado MÍriam LeitÃo
O GLOBO - 03/08/11 Financiar inovação faz sentido; ter incentivo fiscal para a indústria automobilística não faz sentido. Reduzir a contribuição trabalhista de setores que empregam muito pode ser interessante; dar dinheiro na mão de exportador...

- E O Câmbio Continua Matando! Luiz Aubert Neto
O Estado de S. Paulo - 24/09/2010 Temos chamado a atenção, insistentemente, para o processo de desindustrialização e desnacionalização que vem ocorrendo no Brasil. Nos últimos 20 anos passamos de 5.º maior produtor mundial de máquinas e equipamentos...



Política








.