Serenidade O GLOBO EDITORIALp
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As economias emergentes também vêm sofrendo forte impacto da crise financeira internacional, diferentemente do que se esperava meses atrás. No caso do Brasil, indicadores importantes já detectam um processo de desaceleração, de modo que os analistas de instituições financeiras, consultados pelo Banco Central, começaram a fazer projeções mais pessimistas para o desempenho da economia no ano que vem — abaixo dos 3% Embora esse quadro afaste temporariamente o risco de uma demanda aquecida provocar desequilíbrios no mercado interno, além de um déficit crescente nas transações correntes (mercadorias e serviços) do balanço de pagamentos, o fato é que a inflação ainda se mantém em um patamar que não permite descuidos por parte das autoridades monetárias.

O IPCA acumulado em doze meses alcançou o teto (6,5%) da meta que o governo estabeleceu para 2008.

O atual ritmo de atividade econômica não justificaria mais novos apertos no torniquete monetário.

No entanto, o momento continua a exigir observação quanto ao comportamento dos índices de preços. O câmbio tradicionalmente sempre exerce algum tipo de pressão sobre os preços domésticos, e não houve ainda tempo suficiente para se avaliar se esse impacto será neutralizado pela queda nas cotações internacionais de várias commodities, entre as quais alimentos que têm peso relativo elevado na composição dos índices de inflação.

Isso tudo fará com que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha de analisar com muito cuidado o que se passa na economia brasileira e no mundo antes de tomar sua decisão na quarta-feira.

É natural que os apelos para um afrouxamento monetário estejam se intensificando, principalmente por parte dos setores que se sentem mais ameaçados pela desaceleração.

E tais apelos tendem a ser amplificados na área política, com respaldo inclusive de autoridades governamentais — o próprio presidente Lula manifesta desconforto com o nível que as taxas de juros se encontram. Infelizmente, vontade política não consegue cortar juros. Eles até podem ser reduzidos formalmente, mas sobem no mercado.

O Banco Central tem usado o bom senso para evitar que a crise financeira internacional contamine a economia brasileira, e é com essa serenidade que o Copom deve conciliar o combate à inflação a uma política que possibilite à economia brasileira continuar crescendo, mesmo que em percentuais inferiores aos registrados nesses dois últimos anos.



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