Política
Só pode piorar lá fora - ALBERTO TAMER
Mais contrastes esta semana entre a economia brasileira e a mundial. Na Europa e nos Estados Unidos, eles estão perplexos e assustados. Os presidentes dos bancos centrais estiveram reunidos no fim de semana, em Basileia, e alertaram que a economia mundial está perto da recessão, informa o correspondente do Estado em Genebra, Jamil Chade. A situação está ruim, mas o pior está ainda por vir com revela "o enfraquecimento significativo da produção e da demanda" nos países avançados e a resistência de alto índice de desemprego.
O presidente do BC brasileiro, Alexandre Tombini, esteve lá e parece que não falou muito, mesmo porque não tinha nada a dizer aos seus colegas. Eles esperam por uma ação dos governos que não chega nunca.
Removendo obstáculos. Nesta semana, ao contrário dos outros países, o governo deu novos sinais de que vai enfrentar e remover obstáculos ao crescimento. Tem espaço para agir sem desequilíbrio fiscal, aumento da dívida, déficits crescentes e, mais, muito mais ainda, sem desemprego. Mais desonerações, corte de custos, crédito, subsídios - subsídios sim - para reanimar a economia e criar condições para terminar o ano crescendo 4%.
Bom humor no mercado. Essa decisão agora reafirmada pelo governo criou um clima favorável ao Brasil no exterior. Em meio a um mercado financeiro estressado, onde a palavra de ordem é "cautela", fuga para ativos de menor risco, o Tesouro e empresas brasileiras captaram US$ 3,4 bilhões na primeira semana do mês. Só o Tesouro, US$ 1,25 bilhão em bônus soberanos de 10 anos pagando a menor taxa da historia, 2,686% (!) E vai captar mais ainda este ano, afirmou ontem, em São Paulo, o subsecretario do Tesouro, Paulo Valle. E disse mais. "O próximo passo pode ser a emissão de títulos de 30 anos na moeda americana." A anterior foi de 10 anos.
Um sinal positivo dado ao mercado é que o governo não precisa captar mais. Tem reservas de US$ 377 bilhões, dívida de US$ 300 bilhões, mas só US$ 40 bilhões de curto prazo e, mais ainda, investimentos diretos de US$ 66 bilhões em 12 meses. O objetivo do Tesouro é abrir espaço para captações de bancos e empresas no exterior. Para os investidores estrangeiros, o risco agora não é o Brasil, é comprar títulos de outros países ameaçados pela recessão, como alertam os presidentes dos bancos centrais reunidos na Basileia. O Brasil tem apresentado sinais de resistência à nova desaceleração econômica. Isso se deve em grande parte ao crescimento da demanda interna, e da menor dependência do comércio exterior. A Europa, os Estados Unidos e a China importam menos e querem exportar mais, e o Brasil está aceitando o desafio e fortalecendo seu mercado interno.
E o risco? Um recuo do governo, mais difícil porque as medidas anunciadas deixaram de ser promessas para se tornarem um fato. Redução da tarifa de energia elétrica, desoneração da folha de pagamento, crédito maior. Em depoimento no Senado, o presidente do BC lembrou a redução da taxa básica de juros, a melhora das condições de liquidez do sistema financeiro, melhores condições de financiamento para famílias e empresas e incentivos fiscais e tributários. São medidas de difícil reversão, porque deram certo e não há sinal algum de que o governo pretende alterar. Ao contrario, só avança enquanto lá fora eles continuam paralisados, perplexos com uma crise que ainda não entenderam.
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