Social-Democracia, o fim de um ciclo
Política

Social-Democracia, o fim de um ciclo


69 mil clientes do partido social democrata votam hoje na escolha de um novo chefe de serviços. Ora este número de acólitos registados na organização significa 0,85 da população da país. Que legitimidade assiste ao “novo” líder para falar em nome “dos portugueses”? para armadilhar um discurso onde se impõe “se o governo quiser continuar por esta via terá de falar comigo, “EU não deixarei que…, “como 1º ministro não vou consentir…, etc”.

O problema destes dois fedelhos políticos, o zapatero “de direita” e o sócrates “de esquerda”, duas metades de galo de aviário para apenas um poleiro (1), é que ambos são figurinhas impostas do exterior no controlo dos dois partidos social-democratas – os únicos admitidos por escrutínio à “corporate governance” pelas estruturas dos poderes globais dominantes (2). Não existe margem de autonomia nos governos nacionais para imporem o que quer que seja, que não seja assente sobre o valor real do trabalho.
Na presente conjuntura Ignacio Ramonet desconstrói a social democracia como um ente moribundo (3), numa análise perfeitamente moderada cujo alcance não excede a recauchutagem dos partidos ditos socialistas por via da almejada coligação com a esquerda liberal pós moderna, acertando contudo no essencial:

“As recentes eleições demonstraram que a social-democracia europeia já não sabe dirigir-se aos milhões de eleitores vítimas das brutalidades do mundo pós-industrial engendrado pela globalização. Essas multidões de trabalhadores descartados, de novos pobres dos subúrbios, da geração de mil-euristas, de excluídos, de reformados em plena idade activa, de jovens precarizados, de famílias de classe média ameaçadas pela miséria. Meros empecilhos populares danificados pelo choque neoliberal… e para os quais a social-democracia não dispõe de discurso nem de remédios (…) Se faltava algum indício para demonstrar que os socialistas europeus são incapazes de propor umas politica diferente daquela que domina o seio da União Europeia, essa prova foi dada por Gordon Brown e José Luiz Zapatero quando apoiaram a vergonhosa re-eleição à presidência da Comissão Europeia o ultraliberal José Manuel Durão Barroso, o quarto homem da Cimeira dos Açores…

Em 2002 os sociais-democratas governavam em 15 paises da União Europeia. Hoje, apesar da crise financeira ter demonstrado o impasse moral, social e ecológico do ultraliberalismo, já só governam em 5 Estados (Espanha,Grécia, Hungria, Portugal e Reino Unido). Não souberam tirar partido do descalabro neoliberal; e os governos de três desses países – Espanha, Grécia e Portugal, atacados pelos mercados financeiros e afectados pela “crise da divida” – caíram no descrédito e impopularidade ainda maior quando começam a aplicar, com mão de ferro, os programas de austeridade e as politicas anti-populares exigidas pela lógica da União Europeia e seus principais descerebrados (...)
Repudiar os seus próprios fundamentos tornou-se o habitual. Faz tempo que a social democracia europeia decidiu adoptar as privatizações, estimular a redução dos encargos do Estado à custa dos cidadãos, tolerar as desigualdades, promover o prolongamento da idade de reforma, proceder ao desmantelamento do sector público, ao mesmo tempo que incentivava as concentrações e fusões das mega-empresas e auxiliava os bancos. Levam anos aceitando, sem grandes remorsos, converter-se ao social-liberalismo. Deixaram de considerar prioritários alguns dos objectivos que faziam parte do seu ADN ideológico. Por exemplo: o pleno emprego, a defesa dos bens sociais adquiridos ou a erradicação da miséria (...)”
(ler aqui o artigo completo traduzido de Le Monde Diplomatique, France)

(1) "Simbiose: para a "esquerda" não há nada melhor que a "direita"
(2) "FMI entra na Zona Euro"
(3) "eurozona em crise; guerra financeira: o dólar segue o seu implacável avanço contra o euro"
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