Social-democracia e classe média por aí:: Wilson Figueiredo
Política

Social-democracia e classe média por aí:: Wilson Figueiredo


Quando percebeu os primeiros sinais de que fim de governo nada tem a
ver com o começo, o ex-presidente Lula se lembrou de que a classe
média não é um sofisma social, como o pensamento marxista fazia crer
no fim do século 19.

Como de hábito, Lula não estava a par da questão, mas foi apresentado
ao pequeno-burguês e se certificou de que ele existe e, como já era
tarde para voltar atrás, entendeu o papel inédito que lhe cabia em
favor da estabilidade social, pela própria definição de social-
democracia: qual seja, como povo. E fez-lhe uma barretada.

O acesso de qualquer brasileiro à classe média já estava garantido
mediante três refeições por dia.

O revisionismo, que foi o berço da social-democrata, não lhe mereceu
consideração, mas Lula entendeu que devia uma referência simpática à
classe média, pois entre a burguesia e o proletariado, personagens
clássicos, a pequena burguesia ganhou peso político e se encaixou na
sociedade de consumo como lastro estabilizador da democracia no século
20. Com a chegada dos sovietes ao poder na Rússia, em 1917, a classe
média foi depreciada pela ortodoxia marxista e lhe foi recusado o
status de classe social. Não teve vida folgada na primeira metade do
século 20 mas, na segunda, vista com outros olhos, reapareceu com
outra cabeça e folgou no espaço disponível mediante reformas sociais,
dado o custo exorbitante das revoluções.

Foi o mesmo no Brasil, onde nem revoluções nem reformas resolveram o
impasse do atraso político.

Antes de assimilar a convicção social-democrata, a mais conservadora
(e mais qualificada) tendência política nacional à época tomou
emprestada a definição em 1946, mas nosso PSD, em vez de cuidar da
social-democracia, praticou o que se chamou pessedismo, um modo
tradicional de governar sem exagerar. Foi um passo sem sair do lugar,
a marca do pessedismo.

Depois da ditadura seguinte (1964/1985) veio o PSDB com reformas
oferecidas em leque, sem menosprezar a concorrência do PT nem esquecer
a multiforme democracia.

Os dois mandatos petistas de Lula refletiram o anacrônico sestro
ideológico: desconfiança em relação à classe média, que está para a
democracia brasileira como o pré-sal para a economia, e boas relações
como capital de giro. Lula e a moçada do PT confundiram, logo de
saída, o social com o sindical. Mas, na aposta federal, acertaram no
milhar. Nas três primeiras eleições presidenciais, o PT ficou em
segundo lugar em todas. Depois, não perdeu nenhuma.

Mesmo assim, o petismo e o próprio Lula mantiveram hostilidade juvenil
à social-democracia como ideia a que não foram apresentados.

Pelo visto, no entanto, em um mês a presidente Dilma Rousseff está se
saindo uma social-democrata sem se dar conta. Porque o dilema do PT é
não ser ortodoxo nem reformista. Ficou prisioneiro da hesitação. Quis
inventar um Brasil do nada, como se não estivessem acumulados cinco
século de mal contada História colonial.

A ascensão de Dilma Rousseff é o resultado de uma operação eleitoral
que pode ter sido o ponto culminante do roteiro do ex-presidente, mas
não está livre de consequências imprevisíveis para a ideia original de
voltar em 2014. Ou, aproveitando a do Mundial de futebol, prevista
para aquele ano, pode ter sido um gol contra. Não autoriza otimismo a
variedade de raciocínios que se podem fazer dentro da normalidade.

O modo pelo qual a sucessora atende à expectativa dos brasileiros é um
fenômeno sem precedente histórico: o primeiro mês de governo foi uma
lição de civilidade no trato com bandidos, adversários e aliados de
todos os calibres éticos.

Pode-se dizer, por elegância e consideração, que a presidente Dilma
tem polimento social-democrático e sabe que ninguém ascende à classe
média apenas por passar a fazer três refeições por dia.

Wilson Figueiredo escreve nesta coluna aos sábados e terças-feiras.

FONTE: JORNAL DO BRASIL




loading...

-
ainda que não tenhas nada a dizer àcerca daquilo que eu digo "Vamos todos dar a Cara" a favor da campanha do Daniel Oliveira para o peditório social democrata do Bloco "Não compreendendo a teoria da luta de classes, acostumado a ver na arena política...

- Hegemonia - De Quem E De Quê? - GaudÊncio Torquato
O Estado de S.Paulo - 01/04/12 O termo é usado a torto e a direito, de acordo com as conveniências do interlocutor, nem sempre correspondendo à complexidade conceitual que efetivamente abriga, com base no conceito, formulado por Gramsci,...

- Social-democrata? - Alberto Dines
JORNAL DO COMMERCIO (PE)Parece sina: chegamos atrasados, alardeamos desculpas e avacalhamos o evento. Assim foi com a primeira experiência social-democrata em 1945 e assim está sendo agora. Amparado no sólido conhecimento ideológico...

- Merval Pereira- O Alvo Comum
O GLOBO - 20/04/11O ex-presidente Lula deu ontem mais uma das inúmeras demonstrações que tem dado nos últimos anos de que não se preocupa em ser coerente nas suas opiniões desde que possa tirar algum proveito da palavra dita...

- De Uma Panelinha Só-alon Feuerwerker
(17/04) Quando se discute a democracia como valor universal, a ênfase costuma ser a associação com a liberdade. Mas há outra associação importante, entre estabilidade e alternância no poderO Partido Comunista de Cuba...



Política








.