Nos últimos dias vimos nos jornais uma deliberada colocação quanto à
anteposição entre duas das melhores fontes de energia do nosso país -
nuclear e hidrelétrica - entre tantas outras, como eólica, biomassa,
solar, maremotriz, térmicas a gás natural e a carvão, etc. O que causa
estranheza são as projeções das taxas de crescimento do PIB para os
próximos anos serem superiores a 5% ao ano, definindo a necessidade de
incrementar a oferta de energia em uma taxa de 6,5%. Isso significa a
necessidade de ampliar o parque gerador de uns 5 mil MW médios a cada
ano. Haja fonte para atender a essa realidade.
Ao considerar a dimensão do nosso território e o desenvolvimento que
se espraia por todas as regiões, vamos ver que a competência que se
espera das autoridades do setor elétrico para atender os consumidores
é muito grande, e há um desafio maior e custos menores, incluindo a
diminuição da carga tributária e o aproveitamento total das fontes
existentes. O maniqueísmo espelhado na provocação aludida não
considera que, apesar da existência de um potencial insofismável de
hidrelétricas - quase todo na Amazônia - e pela postura atual, estamos
nos rendendo a limitações estapafúrdias em muitas das vezes, e
construindo usinas sem reservatórios ou com ínfimos, de altos
investimentos e baixa produção de energia assegurada - vide Belo
Monte. No lado da energia nuclear, estamos concluindo uma usina a cada
15 anos e temos a 6.ª reserva mundial de urânio - tendo prospectado
pouco mais de um quarto do nosso território - e somos um dos três
países do mundo a dominar o ciclo do combustível.
Quanto às térmicas, damo-nos ao luxo de desperdiçar milhões de metros
cúbicos por dia de gás natural na sua queima fora das termoelétricas,
porque os indicadores espelhados no planejamento do setor as excluíram
e nenhum empresário se interessará em investir em algo demonizado. Ao
mesmo tempo, as reservas do combustível ampliam-se a cada dia e não
sabemos o que fazer com elas. As térmicas a carvão são objeto de
avançadas pesquisas, capitaneadas por EUA e China, para torná-las cada
vez menos emissoras de CO2, enquadrando-as nos limites dos acordos
climáticos. Enquanto isso, esses países, ao lado de Alemanha, Rússia,
Itália e nossos vizinhos, Argentina, Peru, Venezuela, Bolívia e Chile,
entre outros, continuam com sistemas de produção de energia elétrica
majoritariamente térmicos. E não blasfemam sobre essa realidade.
Quando olhamos para a energia eólica, engatinhamos e temos o potencial
de multiplicar por sete a atual produção dessa energia que, por sua
regionalização, prescinde de extensas linhas de transmissão. Os
parques eólicos offshore ainda não foram considerados e nossa costa
tem mais de 8,5 km, o que poderá incrementar a disponibilidade dessa
fonte por todos os Estados litorâneos, além de abastecer as
instalações de exploração do pré-sal, se instalados em condições
apropriadas no seu entorno.
A biomassa já contribui regional e sazonalmente com mais de 4 mil MW
médios. Mas essa fonte não se restringiria, caso quiséssemos a queima
do bagaço de cana. A experiência com capim-elefante está celeremente
sendo desenvolvida e a sazonalidade, hoje detectada pelo uso dos
rejeitos da cana-de-açúcar, deverá ser extirpada e, com isso,
poderemos gerar com biomassa durante o ano todo. Quanto à energia
solar, quer fotovoltaica, quer termossolar, está se tornando cada vez
mais competitiva e tem que compor a matriz energética de qualquer país
que necessite de eletricidade.
O que queremos deixar claro é que não podemos abandonar qualquer das
fontes existentes. Cabe ao governo definir diretrizes que considerem a
realidade e criar condições para que todas as fontes sejam viáveis, e
que a energia gerada tenha preços compatíveis com a realidade dos
consumidores. Para isso é preciso que o governo deixe de encarar o
setor de energia como um coletor de impostos, mas, sim, como um insumo
essencial para o crescimento econômico do País e o conforto da
sociedade.