Recentemente fui solicitado para realizar uma palestra sobre inserção das novas tecnologias na escola. Este assunto é uma das minhas áreas de interesse e já me demandou alguns anos de vida de pesquisa.
Importante pensar que a transformação tecnológica da sociedade moderna foi avassaladora em todas as profissões e em todos os setores da sociedade, sociedade esta, conhecida por sociedade do conhecimento, posto que vivemos momento único na história da humanidade. O momento em que a informação flui de um lugar para outro através de cliques,onde transações são realizadas entre países no piscar de olhos e nas organizações o conhecimento é importante em todo o processo organizacional.
Existe uma história que anda pelas redes digitais no qual diz se fosse inventada uma máquina do tempo para retornar ao início do século XIX. Nesta máquina três profissionais iriam visitar este tempo da história. Seriam eles, um médico, um engenheiro e um professor. O médico constataria que não poderia fazer muita coisa, posto que não teria em mãos as tecnologias médicas do século XXI. A mesma coisa o engenheiro, mas o professor encontraria o mesmo ambiente de aula, com seus recursos e o professor como o centro, aulas verticalizadas e os alunos como seres passivos diante das informações.
Neste sentido, o cerne da questão para reflexões sobre o ensino e aprendizagem é a metodologia que utilizamos e como utilizamos os recursos, sejam materiais e tecnológicos no processo de ensino. Há por parte de alguns professores perguntas fundamentais sobre esta situação tais como: que educação deveremos professorar, qual a nossa concepção de homem e de mundo e que escola esta que estamos reproduzindo e vivenciando?
Para responder estas questões revisitamos alguns pensadores. Para SAVIANI, 1997 a escola tem que preparar a criança para viver e ganhar a vida, oferecendo um ensino de qualidade que propicia a formação integral da personalidade do sujeito histórico.
Nesta mesma linha de pensamento, FREIRE (1996, p.125) coloca que se a educação não fosse uma forma política de intervenção no mundo era indispensável que o mundo em que ela se desse não fosse humano”. Já PAPERT (1994, p. 54), “...a instituição Escola, com seus planos diários de lições, currículo estabelecido, testes padronizados e outras tantas parafernálias, tende constantemente a reduzir a aprendizagem a uma série de atos técnicos e o professor, ao papel de um técnico“.
A pedagogia freinetiana, segundo a qual se deve “aprender fazendo”, vê na própria criança o sujeito construtor do seu próprio conhecimento quando na construção do fazer e refazer de atividades que não devem ser apenas brincadeiras vazias.
Freinet parte da experiência onde a criança não receia o erro e, errando, faz desse erro um refazer do seu conhecimento. Nesse sentido, estamos de acordo com PAIVA (1996, p.18) em que “Freinet tem muito da teoria piagetiana, onde nas práticas educativas do educador estão implícitas as etapas da seqüência necessária ao desenvolvimento cognitivo propostas por Piaget”. Segundo a autora, as congruências de ambos acontecem na descoberta do que é natural na criança, embora Piaget esteja voltado para as questões epistemológicas e Freinet para as questões sociais e políticas. Na escola freinetiana, a criança é um ser sempre buscando descobrir, conhecer, impulsionada por cada descobrimento e cada descoberta.
Para isso, sua preocupação era desenvolver uma pedagogia de preparar as crianças para um mundo de solidariedade, democracia e principalmente para a paz, que tinha por base suas técnicas em fazer o aprendizado em nível cooperativo, social, intelectual e afetivo acompanhando todo o desenvolvimento tecnológico.
Por estas questões, os autores colocam muito bem que educação deveríamos desenvolver nas escolas, mas ainda carecemos de melhores praticas reflexivas.
A finalidade da educação moderna é o desafio da rapidez de aprender e a renovação constante do aprendido. A lógica da pedagogia moderna deixa de ser o saber ensinar para o saber aprender. Nessa concepção de escola moderna e renovada, os objetivos da escola é facilitar a aprendizagem, torná-la mais prazerosa para as crianças, principalmente no processo da aquisição dos rudimentos da leitura e escrita, processar o saber disponível e universalizar o acesso à renovação desse saber.
Nesse paradigma educacional, o homem moderno, da revolução da cibernética, não é o que sabe, é o que está sabendo, isto é, o que está constantemente se renovando e processando novos saberes.
Observamos ainda, a escola toda imperiosa, desconhecendo a liberdade de errar, estigmatizando nas crianças o medo do erro, de falar o que pensam, desconhecendo o valor do acerto, castigando-as com notas vermelhas sem considerar o esforço que elas fizeram para acertar.
Nessa perspectiva, o papel do professor é preponderante na interação professor-aluno-computador, de modo que a criança possa construir o seu conhecimento em um ambiente de aprendizagem desafiador, em que a máquina do conhecimento auxilie o professor a promover o desenvolvimento da autonomia e da criatividade.
Sobre essa questão, o professor, tendo consciência de seu papel de mediador do processo de aprendizagem e atuando com base na zona de desenvolvimento proximal, promove a construção do conhecimento por meio de pistas, ajuda (Vygotsky), desenvolvendo desta forma um ambiente de aprendizagem propício para a aprendizagem significativa, pois certamente terá a liberdade de trabalhar o conhecimento de maneira mais próxima das necessidade das suas crianças.
Neste processo, o papel do professor é de líder, orientador e incentivador que apóia e fortalece os alunos na busca pelo saber, tendo em vista que a discussão está além das novas tecnologias na escola, está agora nas formas de ensinar e de aprender. O educador é um agente de transformação com visão global para relacionar os conteúdos com as questões prementes de nosso tempo como economia, política para entender a realidade e nela influí-la.
A sociedade do conhecimento é uma sociedade em rede que possibilitou a economia globalizada e internacionalizada. Desta forma, temos uma nova cultura, a cultura da virtualidade real (estudo, negócios, namoros, relacionamentos, pesquisa, comunicação, tudo na virtualidade real). E isso deveria colaborar com reflexões profundos nas formas de ensinar e aprender, mas apenas estamos ainda na modernização e replicando com as novas tecnologias o paradigma das cópias e das estruturas da sociedade.
As mudanças de fato não estão nas tecnologias, mas nas concepções de mundo e de educação que cada professor carrega consigo no ato de ensinar e que deveriam ser colocadas para refletir sobre as problemáticas de nosso tempo (contextualizar e interdisciplinar está na ordem do dia).
PENIN e VIEIRA ( 2001) escreve que Os alunos precisam de conhecimentos que lhes sirvam para melhor entender a sociedade global e melhor conviver e agir em sua comunidade e no seu trabalho. (pág. 55), ou seja, os autores colocam a necessidade precisam de movimentos didáticos que possam desenvolver nos alunos a compreensão desta realidade, de nosso tempo e provocar mudanças pedagógicas profundas e a criação de ambientes de aprendizagem que priorizem a construção do conhecimento e não apenas a instrução.
Portanto, o professor é um provocador de situações didáticas, tal forma que estas informações que estão circulando pela sociedade sejam de fato transformadas em conhecimento para a preparação para a vida e para o trabalho, como propõem as nossas legislações educacionais. Além do mais, a escola precisa estar inserida no contexto tecnológico, consciente, sabendo de seus objetivos, capaz de apresentar às crianças situações mais reais, tornando as atividades mais significativas integradas com os problemas do entorno de suas vidas.
REFERÊN CIAS
VIEIRA, Alexandre Thomaz. In: Formação de Gestores Escolares para Utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação: As Funções e Papéis da Tecnologia. São Paulo: MEC et all. 2002.
PENIN, Sonia Teresinha de Sousa e VIEIRA, Sofia Lerche. Progestão: como articular a função social da escola com as especificidades e as demandas da comunidade? Módulo I. – Brasília: CONSED – Conselho Nacional de Secretários de Educação, 2001.
FREINET, Celestina. Pedagogia do Bom Senso. Trad. De J. Baptista, 3ª ed. São Paulo: Fontes, 1991.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à práticaeducativa. 7ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
SAVIANI, Dermeval. O Trabalho como Princípio Educativo Frente às Novas Tecnologias in FERRETT, Also: novas tecnologias, trabalho e educação: um debate interdisciplinar. Petrópolis: Vozes, 1994.
PAPERT , Seymour. A Máquina das Crianças: repensando a escola na era dainformática. Trad. Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
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