VEJA Carta ao Leitor
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Quem manda agora
é o "Tio Chávez"

Apic/Getty Images

Tropas brasileiras em Santo Domingo, capital da República Dominicana: a bandeira
da OEA era apenas um despiste dos Estados Unidos para invadir o país


Pior do que o imperialismo só mesmo o subimperialismo, papel exercido pelo governo militar brasileiro em defesa dos interesses dos Estados Unidos na República Dominicana nos primeiros momentos do regime – e que a diplomacia de Lula desempenha agora em Honduras, sob a orientação e no interesse direto do venezuelano Hugo Chávez. Em 1965, os generais brasileiros mandaram cerca de 1 000 infantes e fuzileiros navais juntar-se às Forças Armadas dos Estados Unidos e de outros países da América Central. Marchando sob a bandeira da Organização dos Estados Americanos (OEA), a tropa invasora, oficialmente em uma missão de paz, tinha como objetivo destituir um governo militar golpista hostil aos Estados Unidos e criar condições para a convocação de novas eleições. Elas foram feitas e levaram ao poder Joaquín Balaguer, amigo de Washington, que pelas duas décadas seguintes dominaria a política do país. Os interesses americanos foram servidos. Ao Brasil sobrou o duradouro deslustre de ser um mero lacaio dos EUA.

Agora, ao transformar a casa que abriga a missão brasileira em Tegucigalpa em quartel-general do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, um caso clínico clássico do maluco que ouve vozes, o Brasil serve à cobiça de Chávez na região. Por razões que precisam ser ainda reveladas, o presidente venezuelano foi o primeiro a anunciar, exaltado, que Zelaya estava de volta a seu país, refugiado na missão brasileira. Chávez organizou e pagou a logística para reconduzir
Zelaya. Latifundiário, direitista, convertido ao bolivarianismo pelo ouro de Caracas,
Zelaya se preparava para dar um golpe ao estilo do patrono quando foi deposto e exilado por oponentes, que, logo, marcaram para 29 de novembro próximo a realização de novas eleições presidenciais.

Entende-se o empenho de Chávez. Está no papel dele. Seu objetivo é recuperar o milionário investimento feito em Zelaya. Mas o que levou o governo brasileiro a agir como coadjuvante do expansionismo chavista na América Latina? Em que o interesse nacional brasileiro foi servido ao se abrirem as portas da missão ao fantoche de Chávez na América Central? Em nada. Apoiar Zelaya não significa defender a democracia. Significa apoiar a ditadura de Chávez. Concertar com Chávez a encenação da semana passada em Tegucigalpa serviu apenas aos interesses eleitoreiros do partido de Lula. Como ocorreu com o regime militar, o lulismo também passará. Ao Brasil, porém, sobrará, como em 1965, a duradoura e melancólica imagem de lacaio – desta vez não do Tio Sam, mas do Tio Chávez.




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