• Autora do excelente documentário O Show Não Pode Parar, sobre o ex-magnata de Hollywood Robert Evans, a diretora Nanette Burstein exorciza aqui parte de sua própria biografia: os anos difíceis do ensino médio. Nanette acompanha o último ano de escola de quatro jovens de 17 anos, em Warsaw, no estado de Indiana – cidade pequena o suficiente para que todas as crianças, ricas ou pobres, tenham de frequentar o mesmo e único colégio. Da princesinha manipuladora ao rapaz tímido vitimizado pela acne, os estereótipos ganham os contornos reais de adolescentes acuados entre o sistema de castas da escola americana, as pressões familiares e as suas próprias aspirações.
TINHA QUE SER VOCÊ (Last Chance Harvey, Estados Unidos, 2008. Estreia nesta sexta-feira) • Harvey (Dustin Hoffman), compositor de jingles publicitários, deixa um emprego nos Estados Unidos para ir ao casamento da filha, em Londres. Posto de escanteio pela família, procura consolo com Kate (Emma Thompson), inglesa solteira e sufocada pela mãe. Harvey se enamora da franqueza revigorante de Kate, e ela se aquece sob as atenções do americano – um romance da meia-idade, cheio de complicações, sublinhado pelo medo do fracasso. Se há alguém que merece o empenho exigido, porém, é Kate – ou mais precisamente Emma Thompson, cuja interpretação luminosa, que exala encanto, compõe um pequeno compêndio sobre as vicissitudes da solidão.
LIVRO SYNGUÉ SABOUR: PEDRA-DE-PACIÊNCIA, de Atiq Rahimi (tradução de flávia nascimento; estação liberdade; 152 páginas; 30 reais) • Radicado na França desde 1985, Atiq Rahimi faz uma literatura densa sobre o desastre humano de seu país natal, o Afeganistão, arrasado pelas guerras e pelo fundamentalismo. Neste novo livro, ganhador do Prêmio Goncourt de 2008, uma mulher afegã cuida do marido em coma, baleado na cabeça durante uma guerra civil, e lhe revela histórias que não teria coragem de contar se ele estivesse consciente. Syngué sabour traduz-se como "pedra paciente", a pedra negra da mitologia persa, que ouve lamentos dos peregrinos. Apesar do título persa, esta é a primeira obra do autor escrita em francês. O livro é dedicado à poeta afegã Nadia Anjuman, morta pelo marido em 2005. Leia trecho.
DISCOS
REPLICA SUN MACHINE, Shortwave Set (Music Brokers) • Surgido em 2003, o trio inglês formado por Ulrika Bjorsne (vocais, guitarra), Andrew Pettitt (vocais, guitarra) e David Farrell (teclados e samples) tem duas influências nítidas: a psicodelia inglesa da década de 60 e a música eletrônica. Adicione a esses estilos a produção do DJ Danger Mouse, uma das figuras mais criativas do pop desta década (ele produziu o grupo virtual Gorillaz e integra o Gnarls Barkley), e tem-se um disco de primeira linha, repleto de canções palatáveis, mas que crescem em detalhes a cada audição. Entre as melhores estãoReplica e Downer Song – que, com solos de viola de John Cale (do Velvet Underground), traz um casamento perfeito das vozes de Pettitt e Ulrika.
ROADSINGER, Yusuf Islam (Universal) • Autor de baladas acústicas de sucesso como Wild World e The First Cut Is the Deepest, o cantor inglês Cat Stevens converteu-se ao islamismo em 1977. Yusuf Islam – como passou a se chamar então – só voltaria ao universo profano do pop em 2006, com o disco An Other Cup. E agora Roadsinger mostra que ele não se distanciou muito de Cat Stevens: o disco traz as melodias acústicas, os delicados arranjos de cordas e a voz suave que fizeram sucesso nos anos 70. Só os temas mudaram: as letras românticas deram lugar a reflexões sobre o mundo, o ser humano e a religião – presentes nas deliciosas Thinking 'Bout You, The Rain e This Glass World.
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