BUENA VISTA SOCIAL CLUB PRESENTS, Manuel Guajiro Mirabal (MCD) • O trompetista Manuel Guajiro Mirabal, de 76 anos, foi um dos músicos cubanos revelados ao mundo pelo projeto Buena Vista Social Club, do guitarrista americano Ry Cooder. O disco de estreia de Guajiro, no entanto, difere muito das produções de seus companheiros de clube. Nada de boleros nem canções românticas: o negócio de Mirabal é fazer dançar. Seu disco transporta o ouvinte para um cassino da Havana anterior ao comunismo, ao som de Mi Corazón No Tiene Quien lo Llore (com direito a um solo venenoso do pianista Roberto Fonseca) e Para Bailar el Montuno. Muitas das composições são de Arsenio Rodríguez, considerado um dos criadores do mambo.
SEM NOSTALGIA, Lucas Santtana (YB) • Versátil, o cantor e compositor baiano Lucas Santtana já foi do pop ao funk e ao dub em seus três discos anteriores. Sem Nostalgia foi definido por Santtana como "um disco de voz, violão e ambiente". Explora as diferentes sonoridades do violão, com alguns recursos eletrônicos – samples, teclados etc. – e participação de alguns dos melhores instrumentistas do pop nacional. A proposta de Santtana é escancarada logo na faixa de abertura, Super Violão Mashup, que alia trechos do violão de Jorge Ben Jor, Dorival Caymmi e Baden Powell, casados a uma bateria eletrônica. Seu experimentalismo, porém, não compromete o apelo pop – Cira, Regina e Nara e Amor em Jacumãsão bem radiofônicas.
LIVROS OLHOS SECOS, de Bernardo Ajzenberg (Rocco; 184 páginas; 28 reais) • Leon é um burocrata medíocre, oprimido por um casamento frustrante e atormentado pela relação conflituosa que teve com o pai – um judeu comunista que batizou o filho em homenagem a Leon Trotsky. Sua juventude, porém, prometia mais: no espírito de contestação ingênua dos anos 70, Leon botou o pé na estrada, primeiro em um kibutz de Israel e depois em uma longa expedição pela Europa. Entre os diários de viagem do jovem e a narrativa desencantada do homem de meia-idade, o jornalista e escritor Bernardo Ajzenberg compõe, neste seu sétimo livro de ficção, um painel irônico e melancólico da geração que cresceu sob a ditadura militar no Brasil. Leia trecho.
O IMITADOR DE VOZES, de Thomas Bernhard (tradução de Sergio Tellaroli; Companhia das Letras; 160 páginas; 39 reais) • O austríaco Thomas Bernhard (1931-1989) fez uma literatura de provocação permanente, acusando a hipocrisia de um país sempre ansioso por ocultar o passado nazista. Os textos breves de O Imitador de Vozes destoam dos parágrafos intermináveis do autobiográfico Origem – mas a virulência de Bernhard é a mesma, concentrada em contos de concisão exemplar. Em um tom seco e objetivo, que lembra a prosa "burocrática" de Kafka, Bernhard apresenta anedotas que desvelam a violência e o absurdo do cotidiano – como a do caçador que mata um companheiro por acidente (ou não?) e a do professor de história natural que maltrata um aluno até fazê-lo perder a audição.Leia trecho.
CINEMA
ALMOÇO EM AGOSTO (Pranzo di Ferragosto, Itália, 2008. Desde sexta-feira em cartaz) • É verão e Roma inteira saiu para passear – menos o solteirão Gianni, que cuida da mãe idosa e há três anos está desempregado. Com o dinheiro curtíssimo, ele aceita tomar conta da mãe do zelador durante um feriado, em troca do perdão a uma dívida. Logo outra velhinha e mais outra ainda se juntam no apartamento de Gianni, levando-o primeiro à loucura e depois a uma solução luminosa: todas estão felicíssimas em se ver livres das imposições dos filhos, e todas têm aposentadoria de sobra para gastar. Escrita, dirigida e protagonizada por Gianni Di Gregorio, roteirista de Gomorra,esta comédia enxuta comenta os impasses provocados pelo envelhecimento da Itália – mas aposta que eles não farão os italianos perder o humor, a personalidade nem o gosto pela boa mesa.
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