Vai ser difícil evitar calotes se não funcionar o pacotinho europeu
programado para vigorar a partir de amanhã
AO FIM da semana tétrica para a Europa, os bancos do continente
imploravam às autoridades que o Banco Central Europeu passasse a
"imprimir" dinheiro a fim de emprestá-lo ao governo grego, e talvez
português, espanhol, belga etc.
(de modo que eles, bancos, não levem o calote de governos).
Economistas acadêmicos e cabeças do mercado diziam e escreviam na
sexta-feira que não haveria alternativa ortodoxa ao pepino grego.
Diplomatas franceses contavam que a França tentava convencer a
Alemanha de que o caldo entornou.
Os franceses dizem que "alguma iniciativa" para financiar os governos
europeus à beira da quebra seria lançada na segunda-feira. Uma medida
que teria o apoio alemão seriam intervenções nas normas do mercado, a
fim de conter a "especulação".
Na praça europeia, havia o boato de que governos e/ou BCE bancariam
uma compra de títulos de governos na casa de 600 bilhões, US$ 763
bilhões, metade do PIB do Brasil. O BCE é, na prática, dominado pela
Alemanha. A Alemanha não quer mais ouvir falar de cobrir rombos.
Mas foi essa atitude que fez o mercado levar a Grécia às cordas. O
mercado, histérica ou racionalmente, não se convenceu de que o
empréstimo de 110 bilhões vá resolver a pindaíba grega. Nem que haverá
condições políticas e sociais para que o governo grego poupe o
bastante, arrochando o país numa recessão de dois ou três anos.
Fundos de pensão e seguradoras, grandes compradores da dívida dos
governos, estão fugindo desses papéis. A taxa de juros que em tese
seria cobrada dos portugueses, caso tomassem dinheiro na sexta-feira,
era equivalente à cobrada dos gregos quando eles pediram água, faz uns
15 dias. Obviamente, a alta do custo de financiamento dos governos
influencia o custo das dívidas externas privadas. Como os devedores
privados de países como Espanha vão rolar seus papagaios?
Se investidores institucionais deixarem de financiar governos, quem o
fará? Ou melhor: o que vai ser do custo de financiamento de Portugal,
Espanha, Bélgica e cia. se tais investidores continuarem a vender
papéis da dívida? Vai continuar a subir. Vai alterar o preço de vários
outros ativos financeiros. A volatilidade e o risco vão aumentar mais.
O crédito vai encolher. O dólar vai subir.
O custo de seguro de dívidas de bancos europeus foi à Lua (o maior
desde o primeiro trimestre de 2009). Os juros que bancos cobram um dos
outros para empréstimos de curto prazo pulou para o maior nível desde
meados de 2009. Estamos muito longe da paralisia de crédito que quase
quebrou o mundo, a de 2008. Por ora. Mas cresceu a especulação sobre
qual banco está mais bichado, carregado de papéis gregos.
Na sexta-feira, enfim, se sugeria abertamente que:
1) Grécia e/ou Portugal "reestruturassem" suas dívidas (que paguem
mais tarde, paguem menos etc.: calote, em suma);
2) Que União Europeia, Banco Central Europeu e FMI, com algum apoio do
G20 (Estados Unidos), cobrissem buracos da dívida de países menos
arrebentados e comprassem títulos da dívida pública deles.
Se o pacotinho europeu para segunda-feira não funcionar, vai ser
difícil encontrar alternativa ao calote a princípio organizado.