Tão cedo os preços das commodities não saltarão da montanha-russa em
que embarcaram.
Nos primeiros quatro meses do ano, o índice CRB, que mede o
comportamento dessas cotações, saltou 11,3%. E apenas nos nove
primeiros dias úteis de maio - até ontem -, mergulhou 8,6% (veja o
gráfico).
Commodities são matérias-primas negociadas diariamente nas bolsas
internacionais de mercadorias. Petróleo, prata, cobre, milho, soja e
café são commodities. Minério de ferro, enxofre, feijão e mandioca,
embora sejam matéria-prima e alimentos, não são - porque não são
negociados em bolsa.
Há duas explicações para a disparada de preços das commodities desde
julho de 2010. A primeira dá força à especulação financeira: há
dinheiro sobrando no mundo à procura de aplicação e um pedaço dessa
enorme liquidez desembocou no mercado futuro de commodities. Vista
dessa forma, essa alta é consequência das enormes emissões de moeda
dos grandes bancos centrais.
A segunda explicação é a de que a escalada dos preços tem mais a ver
com os fundamentos econômicos. É consequência da maior demanda por
matérias-primas e alimentos que, por sua vez, provém da inclusão de
crescentes camadas da população e do aumento de renda nos países
emergentes, especialmente China, Índia e Coreia do Sul.
Esses dois fatores se compõem. Porque preveem, por exemplo, o aumento
da procura por parte dos asiáticos, os especuladores despejam mais
recursos na compra de contratos futuros de algumas commodities. E, por
preverem altas alavancadas por especuladores, os compradores dos
emergentes fazem estoques e tentam antecipar suas compras e, nessas
condições, contribuem para a disparada dos preços. Mas há razões para
acreditar em que o fator determinante seja mesmo o aumento do consumo
dos asiáticos. Prova disso é que os preços de certas matérias-primas
que não têm características de commodities também estão subindo - caso
do minério de ferro e das terras raras.
Essa divergência de diagnóstico está longe de ser apenas teórica;
produz consequências práticas. Bastaria restringir os negócios nos
mercados futuros de commodities para derrubar os preços, se essa fosse
a causa principal. As maiores exigências de margens nos negócios com
commodities para entrega futura, como já aconteceu com a prata e com o
petróleo, contribuem para baixar em alguma coisa os preços. E quando
os grandes bancos centrais começarem a enxugar o mercado de dinheiro,
podem cair ainda mais.
Mas, se o fator principal é a maior demanda asiática, o que pode
derrubar os preços seria a perspectiva de menor crescimento econômico
chinês. Ontem, por exemplo, os preços das commodities caíram porque a
China aumentou a retenção compulsória dos bancos, o que favorece a
contenção da demanda.
Como não parecem próximas nem a operação de saída estratégica dos
bancos centrais nem a redução da demanda de matérias-primas, as atuais
quedas de preços não devem ser interpretadas como uma reversão
definitiva das atuais tendências. Com solavancos ou sem solavancos,
parece prevalecer ainda a tendência de alta dos preços das
commodities.
CONFIRA
Aí está a trajetória das cotações de sete commodities apenas em maio.
"Assimetria"
Os argentinos não conseguem defender de maneira consistente essa
permanente disposição de travar a entrada de produtos brasileiros.
Está em vigor um tratado de livre comércio (Mercosul), que eles nunca
cumprem. O argumento é o de sempre: as condições entre os dois países
são assimétricas. Eles têm à disposição todo o mercado brasileiro, mas
não conseguem competir aqui, apesar do custo Brasil e do câmbio
adverso para o produtor brasileiro.