Política
Bateu na trave, mas entrou - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 07/01/12
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não terá de escrever uma carta para o ministro da Fazenda - seu superior no organograma federal - para explicar o estouro da meta da inflação de 2011.
Ele só teria essa obrigação se a evolução do IPCA saltasse para além dos 6,5% (meta de 4,5% mais o desvio de 2 pontos porcentuais). Mas, como ontem revelou o IBGE, a inflação de 2011 ficou cravada nos 6,5%.
Bateu na trave, foi gol e assim se cumpriram as projeções do Banco Central de que a inflação de 2011 ficaria entre as margens de tolerância. Mas ficou estranha a comemoração. O Banco Central passou os últimos oito anos entregando a inflação na meta e, no entanto, não sentiu necessidade de soltar rojão. Desta vez foi diferente.
Em nota oficial previamente redigida, divulgada logo depois do anúncio do IBGE, Tombini celebrou o acontecido como cumprimento da estratégia monetária do Banco Central. E mencionou como sinal de "arrefecimento das pressões inflacionárias" a desaceleração dos preços no atacado - de 7,5%, no terceiro trimestre, para 5,1%, no final de 2011.
É um pouco cedo para colocar tanto potencial baixista no segmento dos preços no atacado. A alta dos alimentos, por exemplo, dá sinais de retomada, especialmente neste início de ano, tão suscetível a choques de oferta.
No entanto, o que ocorre nos preços no atacado não é o que deveria merecer o maior foco do Banco Central. O setor mais vulnerável a escapadas de preços é o dos serviços. Eles haviam saltado 8,15% em 2010 e fecharam 2011 com avanço de 9,39%. Somente esse segmento foi responsável por nada menos que 31% do salto do IPCA no ano que passou.
A principal explicação para essa alta na remuneração dos serviços é a forte elevação do emprego e da renda em 2011 - como bem observou a coordenadora dos Índices de Preços do IBGE, a economista Eulina Nunes dos Santos. Apenas a título de exemplo, nesse segmento, em 2011, os aluguéis residenciais subiram 11,01%; os serviços de empregado doméstico, 11,37%; cabeleireiro, 9,88%. Como a Coluna de ontem observou, em processo de ascensão das classes baixas para níveis superiores, acentuam-se as pressões sobre o setor de serviços.
O fator renda seguirá puxando os preços ao longo deste ano. Em que pesem diferenças regionais, o mercado de trabalho continua muito próximo da situação de pleno emprego e, a partir do dia 1.º, o salário mínimo sofreu um reajuste de 14,13%, substancialmente superior aos ganhos de produtividade e da própria inflação.
Afora isso, não há como compensar a guinada dos preços dos serviços com importações. Esse é mais um elemento que deverá empurrá-los para cima.
Por enquanto, não há o que possa mudar a atual estratégia de política monetária. Além da meta de inflação, o Banco Central se mantém determinado a cumprir a meta de juros básicos (Selic) de 9,0% ao ano - a que a presidente Dilma Rousseff várias vezes se referiu.
Isso significa que, na reunião do Copom, agendada para o dia 18, a Selic, hoje de 11,0% ao ano, deve cair para 10,5%.
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