Política
Celso Ming A inflação se acirra
- O Estado de S.Paulo A inflação de agosto não mostrou nenhuma pancada fora das expectativas, tampouco algum fator animador. A evolução do IPCA em 12 meses, como mostra o gráfico, ficou em 7,23%, ou seja, estourou a meta (4,5%) conjugada com a margem de tolerância (2 pontos porcentuais). O Banco Central já havia passado o recado de que ficara difícil garantir a inflação na meta em 2011. Mas reforçou seu compromisso de que a convergência se daria em 2012. O plano de voo é o de que, a partir de setembro ou outubro, a inflação em 12 meses comece a recuar. Os números divulgados ontem pelo IBGE mostram que a obtenção de uma inflação na meta em 2012 ficou mais difícil. É bem mais provável agora que o próximo ano comece com o índice em 12 meses mais próxim0 dos 7% do que dos 6,5%. Pelo menos quatro fatores tendem a mantê-lo forte. O primeiro deles é a natureza da inflação em curso, claramente de demanda. O consumo está aquecido, o que acaba de ser corroborado tanto pelos levantamentos do mercado de trabalho (desemprego em queda) como pelas Contas Nacionais do segundo trimestre, que mostraram a demanda das famílias puxando o PIB. Enquanto isso, o setor produtivo está ficando para trás, atolado em elevação de custos e acirramento da concorrência externa. O segundo fator de alta é o comportamento dos preços dos alimentos. A aposta da área da Fazenda era de que a crise externa derrubaria os preços das commodities. E o que se vê não é bem isso. É a forte demanda asiática por alimentos e energia que tende a manter esses preços elevados - e não na direção contrária. Em terceiro lugar, o custo de vida deverá ser puxado também pelo alentado reajuste dos salários. Para o início de 2012, está contratado aumento do salário mínimo de nada menos que 14%. Além disso, os reajustes até agora negociados com importantes categorias profissionais (metalúrgicos, petroleiros, petroquímicos e bancários), na faixa dos 10% (portanto, bem acima da inflação), tendem a se estabelecer como referência para as outras classes. E há, finalmente, a pressão de alta exercida pelos preços do setor de serviços, que não tem competição externa. Medidos em 12 meses, saltaram para o patamar dos 9%. É o forte avanço da renda interna que vai criando enorme demanda pelos serviços, sem que a oferta acompanhe. Na última reunião do Copom (dia 24 de agosto) o Banco Central indicou que aposta suas fichas na crise externa, para que ela se encarregue de conter os preços. O pressuposto é de que o mercado global passe agora por acentuado processo de desinflação - processo que ajudaria a controlar os preços também no Brasil. A Ata do Copom, que será divulgada amanhã, deverá conter mais esclarecimentos sobre a avaliação do Banco Central. No entanto, a menos que a argumentação traga novidades, parece improvável que o Banco Central consiga reverter prontamente as pressões altistas num ambiente de afrouxamento monetário (queda de juros). CONFIRA Intervenção na Suíça O Banco Nacional da Suíça (banco central) entrou para valer na guerra cambial. Avisou que não tolerará cotação inferior a 1,20 franco por euro. Comprará toda moeda estrangeira que ameaçar derrubar seu câmbio fixo. Ou seja, despejará francos para manter a paridade desejada. O objetivo é manter a força da indústria, da rede hoteleira e as receitas dos bancos, que vinham sendo dilapidadas pelo fortalecimento do franco. Exemplo japonês É mais ou menos o mesmo que o Banco do Japão (banco central) tenta fazer para evitar novas valorizações do iene em relação ao dólar, com a diferença de que, até agora, não fixou uma cotação a defender. Até onde vai? A grande pergunta hoje consiste em saber se a Suíça tem bala para queimar nessa parada. Em geral, câmbio fixo é oportunidade de ataque dos especuladores. A partir de agora, os mercados passarão a testar a real disposição do banco central de comprar moeda estrangeira. A conferir.
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