Política
CELSO MING Mais vitamina
E agora se vê que o crédito não encolheu, como tantos denunciaram há algumas semanas. Ao contrário, até que cresceu bastante. Mas simplesmente faltou e continua faltando desde outubro, apesar do notório desaquecimento da atividade econômica.
Os números ontem divulgados pelo Banco Central mostraram o aumento do estoque de crédito. Em outubro, já havia se expandido 2,8% sobre o mês anterior e, em novembro, avançou outros 2,0%.
Enfim, as operações de crédito continuam crescendo e, no entanto, em plena desaceleração da atividade econômica, a sensação do mercado é a de que o crédito sumiu.
Isso aconteceu porque a crise aumentou substancialmente a procura por crédito interno. Dois fatores concorreram para que isso acontecesse. O primeiro deles foi o bloqueio do crédito externo até mesmo para exportações, o que obrigou as empresas, que normalmente se abasteciam de financiamentos no exterior, a recorrerem ao crédito interno.
Foi este, por exemplo, o caso da Petrobrás, que não encontrou reforço de capital de giro lá fora e se viu obrigada a recorrer ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal.
O segundo fator foi a enorme pressão exercida pelas filiais ou subsidiárias de empresas estrangeiras também sobre as disponibilidades internas. Estas foram convocadas pelas suas matrizes a reforçar o caixa delas no exterior, naquela operação que esta coluna já chamou de raspa tacho.
Assim prevaleceu o efeito aspirador que as grandes empresas puseram em movimento. As pequenas e médias empresas praticamente foram empurradas para fora e faltou vitamina para elas, especialmente para seu capital de giro.
Mas isso não é tudo; no ambiente de escassez de crédito, subiu o preço (juros), como simples efeito da lei da oferta e da procura: deixou de haver crédito para todos, subiram os juros.
O gráfico do Confira mostra o que aconteceu em 12 meses. Mas apenas em dois meses (outubro e novembro) os juros médios para capital de giro subiram de 41,0% para 46,3% ao ano; o desconto de duplicatas, de 51,0% para 60,8%; e o crédito pessoal, de 56,3% para 60,6%.
Não dá para deixar de apontar aqui um importante efeito da política fiscal (manejo das receitas e despesas do Tesouro). O governo Lula vem conseguindo cumprir o compromisso de manter uma sobra de arrecadação, equivalente a 4,3% do PIB, destinada ao pagamento da dívida pública (superávit primário). Graças a esse superávit a dívida pública está caindo em relação ao PIB (hoje está em 37%).
À medida que o Tesouro deixa de avançar sobre as disponibilidades internas de poupança, abre-se o espaço para a expansão do crédito. Em dezembro de 2007, não passava de 34,2% do PIB; em novembro, já chegou aos 40,3% (veja o gráfico). Por aí se pode ver quanto o crédito ao setor privado pode crescer se o governo disciplinar suas despesas.
Apenas para ficar com três termos de comparação, nos Estados Unidos o crédito equivale a 284% do PIB; na Coréia do Sul, a 98%; e no Chile, a 67%. Enfim, o crédito tem muito espaço para crescer no Brasil.
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