A economia brasileira vai bem, assegura o governo Dilma. Encabeça a
sigla Brics, crescerá 4,5% em 2012 - garante o ministro Guido Mantega,
e, desde 2003, proporcionou a melhora dos níveis de renda de mais de
40 milhões de brasileiros que chegaram à "nova classe média". Além
disso, o País vive uma situação inédita de pleno emprego, tem US$ 355
bilhões em reservas externas, tende a escalar as tabelas das agências
de classificação de risco, apresenta juros básicos em queda e inflação
sob relativo controle. Conta com fantástico programa de exploração do
pré-sal e vem sendo assediado por Investimentos Estrangeiros Diretos,
da ordem de US$ 66,6 bilhões no ano passado, capitais que há alguns
anos o evitavam.
Seria extraordinária oportunidade para tirar o atraso no
desenvolvimento econômico e assegurar grande presente para um país
que, até agora, não deixara de ser apenas o país do futuro.
No entanto, entre trapalhadas e incapacidade de definir uma
estratégia, o governo Dilma se enreda nas travas colocadas por sua
própria política econômica.
Há alguns meses, concluíra que estava diante da oportunidade histórica
de afinal derrubar o nível dos juros, um dos mais altos do mundo.
Embora reconheça mudanças estruturais (para melhor) da economia, o
Banco Central acaba de anunciar que será obrigado a travar os juros
básicos (Selic) nos 9,0% ao ano.
Ainda que o Banco Central não o admita explicitamente, essa parada vai
sendo determinada também pelo risco crescente de que a inflação se
descole da meta. Particularmente grave é o avanço da inflação do setor
de serviços, que aponta para o nível dos 10% ao ano.
A poupança nacional segue baixíssima (de apenas 17% do PIB) e o
Tesouro é uma laranja espremida. É preciso aumentar urgentemente os
investimentos, situação que exige maior concurso dos capitais
privados.
Mas o governo Dilma vacila em avançar por aí, porque parece paralisado
por falso princípio ideológico e não quer ser acusado de "privataria".
Até mesmo o atrasadíssimo processo de concessões dos aeroportos foi
levado adiante com o breque de mão puxado.
De um lado, o Brasil necessita atrair capitais externos para suprir
sua baixa poupança interna. De outro, o governo federal se aflige ante
o impacto do afluxo de moeda e põe em funcionamento mecanismos
destinados a contê-lo, mesmo depois de verificar o aparecimento de
efeitos colaterais ruins.
Durante seus três primeiros meses de governo, a presidente Dilma
repetiu que a prioridade seria desonerar as folhas de pagamento. Mas,
até agora, apenas quatro setores foram beneficiados e, ainda assim, de
modo tão insatisfatório que o ramo de confecção preferiu ficar de
fora.
As exigências de aumento do conteúdo local, que deveriam ser
entendidas como apoio à indústria nacional, são cada vez mais
percebidas como fator de elevação de custos e de perda de
competitividade. E é o principal fator que vem adiando indefinidamente
o anúncio do novo regime automotivo do governo.
Assim, de trava em trava, a administração da presidente Dilma, da qual
se esperavam novos saltos na qualidade gerencial, corre o risco de ser
lembrada como um governo travado.