A novidade agora é que resolveu esperar a realização da convenção
nacional extraordinária no partido, em 15 de março, para oficializar a
decisão que será anunciada em algum dia das duas semanas subsequentes.
Enquanto isso, ele examina qual a melhor forma de resguardar os
mandatos dos deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores que
pretende levar consigo: se o Congresso aprovar alterações na lei que
permitam a abertura de uma "janela" para transferências partidárias,
tudo resolvido.
Se não, a alternativa será a criação de um partido para abrigar
aqueles dissidentes, já que a atual legislação prevê a mudança sem
punições para o caso de fundação ou fusão de legendas. A posterior
fusão desse partido transitório à nova casa de Kassab seria uma
possibilidade.
A referência à "nova casa" e não ao PMDB específica e diretamente é
proposital. Hoje o destino do prefeito de São Paulo é mesmo o partido
de Michel Temer. Ocorre que há uma conversa e algumas condições no ar.
A conversa é com o PSB, cujo presidente, governador Eduardo Campos, já
manifestou interesse, embora ainda não tenha sentado à mesa para
formalizar o convite, de ter Kassab em seus quadros. São tratativas a
respeito das quais o prefeito não confirma nem desmente.
Claro, a ele interessa manter o maior número possível de portas
abertas, inclusive para valorizar e facilitar a negociação com o PMDB.
As condições a serem postas para Temer em momento oportuno, são as
seguintes: comando do processo de sucessão na Prefeitura de São Paulo
e o compromisso de não bater de frente com José Serra, com quem
Gilberto Kassab ainda considera que tenha um dever de lealdade por ter
sido o tucano, quando aceitou sua indicação como vice na chapa para a
prefeitura de 2004, quem abriu lhe abriu as portas para crescer na
política.
Em português claro: Kassab quer o comando da eleição municipal e
liberdade para apoiar Serra se ele for candidato a prefeito em 2012,
presidente ou governador em 2014. O compromisso, diga-se, limita-se à
candidatura do tucano e não se estende a nenhum outro político do PSDB
e área de influência.
Se Geraldo Alckmin for candidato à reeleição, como tudo indica que
será, Kassab se sente liberado para tentar construir a candidatura ao
governo do Estado. Da mesma forma se, na ocasião, ficar definido que o
candidato a presidente pelo PSDB será Aécio Neves.
Aceitas as condições, o prefeito transfere-se em abril para o PMDB
levando junto uma quantidade de deputados, prefeitos e vereadores que
não tem revelado nem aos mais próximos colaboradores.
Alguma possibilidade de permanecer no DEM? Só na versão oficial, quase
fantasiosa de tão remota: caso o grupo aliado ao atual presidente,
Rodrigo Maia, perca a disputa interna na convenção extraordinária de
março, o partido recupere-se ao escândalo do mensalão brasiliense e
como por encanto passasse a representar boas perspectivas políticas e
eleitorais.
Ou seja, na ocorrência de um milagre, Kassab fica.
Cenografia. Por essas e muitas outras a Comissão de Ética Pública da
Presidência da República não passa de uma boa e inútil ideia. Cinco
meses depois do escândalo Erenice Guerra, o presidente da comissão,
Sepúlveda Pertence, informa que na semana que vem fica pronto o
parecer sobre as acusações de uso do cargo para tráfico de influência.
A partir de então, Erenice terá dez dias para apresentar sua defesa.
Se for considerada culpada, recebe uma "censura". Sem efeito, pois não
a alcança no posto nem representa impedimento legal para que venha
assumir outro cargo público.
Criada para balizar a conduta de funcionários do primeiro escalão do
governo federal, ao se tornar uma instância vã a comissão apenas
presta-se a encenações que desvirtuam completamente seu caráter
original.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO