Por todo o país, milhares de pessoas saíram à rua neste sábado para pedir o fim das presentes políticas. De norte a sul, passando também pelas regiões autónomas, exigiu-se o fim do pesadelo em que o país está mergulhado. E até em Ponta Delgada, cerca de 200 pessoas vieram para a rua mostrar a sua indignação. Um dos slogans mais ouvidos em todas estas manifestações foi nem mais nem menos do que “Está na hora do Governo se ir embora”. E apesar deste slogan não ser novidade durante o último ano neste tipo de manifestações, são já os setores mais insuspeitos a defendê-lo sem rodeios. Atingiu-se portanto um ponto de saturação sem retorno.
É aliás este grande ponto de viragem que nos permite antecipar o toque de finados do atual Governo. Quando o eleitorado começa a pedir abertamente eleições e as sondagens assim o apontam, não há dinâmica governativa que resista. E é isso que tem vindo a a acontecer progressivamente. Numa primeira fase, a queda antecipada do governo foi sendo assumida sobretudo por comentadores e outros líderes de opinião, mesmo que do mesmo quadrante político do Governo. Tal aconteceu sobretudo a partir de Setembro com a questão da Taxa Social Única e com o assumir que os cortes nos subsídios chegariam em 2013 aos trabalhadores do privado. A grande manifestação nacional de 15 de Setembro foi o grande ponto de viragem a este respeito, começando então a ser abertamente pedida a queda do Governo. De então para cá, com maior o menor intensidade, a popularidade do Executivo tem diminuído a olhos vistos.
Mas para que a grande maioria do eleitorado apoie convictamente a queda do Governo, duas condições são determinantes. Em primeiro lugar, o custo-benefício da mudança. Ou seja, sempre que há uma alteração governativa, o impacto da mesma faz-se naturalmente sentir no aparelho público, com mudanças de titularidades de cargos, mudanças de estratégias, projetos em stand by, entre outros inconvenientes. São períodos em que a Administração Pública abranda por ausência de definições. Atualmente, mesmo tendo em conta o inconveniente económico que uma nova mudança de governo pode trazer, grande parte do eleitorado está já mais ou menos convencido que tal mudança é preferível à manutenção do atual rumo, cujos resultados estão à vista.
Em segundo lugar, e mais importante do que a questão acima, encontra-se a existência ou não de uma perspetiva clara sobre quem pode substituir o atual Governo. Ou seja, qual a alternativa e quem pode corporizar a referida alternativa? Neste aspeto, as perspetivas ainda não parecem assim tão claras, pelo menos a julgar pelas diversas sondagens existentes. Como é sabido, António José Seguro está longe de ser a figura com o carisma necessário que lhe permita assumir-se como a grande alternativa à governação atual. E a novela recente que proporcionou com António Costa veio com certeza acentuar o referido sentimento. Ou seja, a liderança do maior partido da oposição ainda não consegue convencer a maioria dos portugueses.
Não estão ainda reunidas todas as condições para que a queda do Governo tenha já uma data marcada. É um facto. Mas, como é sabido, o fenómeno político está longe de ser uma ciência exata. Estranho seria portanto que algo apenas sucedesse quando estivessem reunidas todas as condições para o efeito. Sabemos que o Governo vai cair, só não sabemos quando. Sabemos que as pessoas começam a querer abertamente que o governo caia, só não têm ainda uma alternativa clara que mobilize o seu apoio. Sabemos que “está na hora”, falta apenas preparar o “ir embora”.
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
(Imagem: SIC Notícias)
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