A medida, a ser anunciada ainda esta semana pelo ministro da Fazenda,
Guido Mantega, vai reduzir em cerca de R$5 bilhões os subsídios, mas
mesmo assim as taxas continuarão abaixo da Selic, que deve ser
aumentada na próxima reunião do Copom.
O ministro Guido Mantega recusa a ideia de que o governo esteja
fazendo maquiagens nas contas públicas, afirmando que todos os
procedimentos são transparentes e legais.
Apesar de esses malabarismos contábeis servirem para aumentar a dívida
bruta do governo central para 63,9% do PIB em janeiro deste ano, os
números ainda são bem melhores do que o das economias desenvolvidas.
Os Estados Unidos superou os 110% do PIB, enquanto França, Reino Unido
e Alemanha estão entre 70% e 90% de seus PIBs.
O Brasil destoa, no entanto, do índice dos BRICs, que têm uma dívida
bruta em média de cerca de 30%, média que é puxada para cima pelo
índice brasileiro, que se compara com os países desenvolvidos que
esparramaram dinheiro em seus mercados para combater a crise
financeira de 2008.
Quanto à dívida líquida do setor público, o governo comemora a redução
para 37,8% do PIB prevista para este ano, mas não esclarece que ela só
não aumenta por que os repasses para os bancos estatais estão sendo
feitos por fora do orçamento. Se fossem feitos de maneira tradicional,
a dívida líquida teria crescido fortemente. Em janeiro ela está em
40,1%, pequena queda em relação ao ano passado.
O governo brasileiro trabalha com a hipótese de que o país entrou para
o grupo de emergentes dinâmicos que passam a liderar a economia
global.
A média de crescimento do PIB dos oito anos do governo Lula foi de 4%,
com a previsão de crescimento em 2010 de 7,5%.
Nos próximos quatro anos, a média prevista pelo governo para o
crescimento do PIB é de 5,9%, colocando o país entre os que crescem a
uma média superior a 4% ao ano, embora muito abaixo dos países
asiáticos.
Pela previsão do Ministério da Fazenda, com base em dados do FMI, as
economias emergentes e em desenvolvimento crescerão em média 7,5%,
enquanto a média mundial será de 4,8%, e a das economias avançadas de
2,7%.
Embora preveja uma redução de crescimento do PIB brasileiro para 5%
este ano, o Ministério da Fazenda estima um crescimento da economia
nos anos seguintes para 5,5%, em 2012, e 6,5%, para 2013 e 2014.
Para tal desempenho, o governo está estimando que o investimento total
deve passar dos atuais 19% do PIB para 24% até 2014, o que faria o
país voltar a taxas de investimento que teve na época do "milagre
brasileiro".
Aumentar os investimentos é também uma razão para o governo persistir
na sua política de capitalização do BNDES.
Um dos indicadores do bom desempenho da economia é o crescimento
acelerado dos bancos brasileiros, que fica só atrás dos bancos
chineses.
O ministro Guido Mantega garante que os cortes anunciados por ele e
pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior, são para valer, e o
objetivo é reduzir o ritmo do crescimento da economia para evitar
inflação.
Ele considera que foram acertadas as medidas de indução do crescimento
da economia, mesmo que agora tenha que fazer cortes no valor de R$50
bilhões no orçamento para equilibrar as contas públicas e conter a
inflação dentro da meta.
O governo já detecta os primeiros sinais de redução do nível de
atividade, provocados por medidas prudenciais já adotadas, como a
elevação dos juros e o aumento dos depósitos compulsórios.
As vendas no varejo ficaram estáveis no período entre novembro e
dezembro do ano passado, e a indústria em dezembro do ano passado teve
queda de 0,7% em relação ao mês anterior.
Apesar do aumento, a inflação estaria controlada na visão do governo,
e na média dos países emergentes: pior que México (3%) e China (2%) e
maior do que Rússia (6,5%) e Turquia (6%).
Segundo a visão otimista do governo, a variação da inflação acompanha
o movimento internacional, embora os próprios dados mostrem que
estamos entre os países em que a inflação mais cresceu entre 2009 e
2010: um aumento de 1,6 ponto percentual.
Cinco países tiveram aumentos maiores: Estados Unidos (2); Turquia
(2,3); Inglaterra (3,9) e Argentina (4,2).
O que pode prejudicar a visão otimista do governo para um crescimento
médio de quase 6% é uma crise internacional de petróleo, que provoque
a redução dos fluxos de comércio internacional, com o comprometimento
da recuperação da Europa e dos Estados Unidos.
O mundo está em turbilhão, em uma região delicada, sobretudo, pela
produção de petróleo, e o governo brasileiro não vê motivos para rever
suas projeções de crescimento para os próximos anos.
O governo considera que o país está bem preparado para enfrentar uma
eventual crise, e o ministro Mantega destaca quatro vantagens
comparativas do Brasil: importante autonomia petrolífera; a importação
de derivados é feita de países menos instáveis politicamente; o
mercado interno pode absorver choques de demanda externa e o fato de
sermos o maior produtor de etanol.
Há ainda a crença do governo brasileiro de que no médio prazo o país
poderia até mesmo se beneficiar de uma crise, desde que o aumento do
preço do petróleo e de outras commodities seja "moderado".
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está tão otimista com a situação
que se declarou contrário à tentativa de ressuscitar a CPMF, o imposto
do cheque. Ele diz que não é necessário aumentar a carga tributária e,
ao contrário, declarou-se disposto a desonerar a economia, sobretudo a
folha de pagamentos das empresas.
FONTE: O GLOBO