O pacote de estímulo econômico de Obama de US$ 447 bilhões, cerca de 3% do PIB, foi bem recebido, mas com reserva pelo mercado. É bem orientado, metade dos recursos se destina a criação de 2 milhões de empregos, mas não deve apresentar resultados no curto prazo. Nasce adiado. Qualquer medida que venha dos Estados Unidos ou da reunião dos ministros das Finanças dos G-7, que se realiza agora em Paris, já está atrasada.
Ninguém espera que o Congresso aprove o programa do governo ainda este ano. O que está em jogo na política americana não é evitar que a economia recaia na recessão - e o risco existe, pois se prevê um PIB de apenas 0,2% no terceiro trimestre -, mas impedir a reeleição de Obama dentro de 14 meses. E querem conseguir isso impedindo que o desemprego - que se mantém em mais de 9% - diminua.
Ao avaliar a reação da maioria republicana ao dramático apelo de Obama, analistas previam que o Congresso concordaria no máximo com US$ 150 bilhões, apenas 1% do PIB. Não é nada e não criaria os 2 milhões de empregos nos próximos anos.
Medo do terror. As bolsas mundiais sofreram forte queda, em torno de 2,70% na sexta-feira na Europa e nos EUA, e 3,1% no Brasil. Prevendo um crescimento ainda menor e mais tensões na zona do euro, os investidores continuaram correndo para os títulos americanos. Dois outros fatores pesaram nesse resultado: a ruptura na direção do Banco Central Europeu com o pedido de demissão de Juergen Stark e o risco de um novo ataque terrorista neste domingo, 11 de setembro, quando se relembra a destruição das torres nos EUA.
Brasil: nada a esperar. Se o mundo não tem nada a esperar do pacote de Obama, o Brasil muito menos. Neste fim de semana, era unânime a previsão de que a economia mundial não volta a crescer este ano. Os Estados Unidos recuam, a Europa desunida, sem líderes, afunda na crise do euro, e os emergentes que ainda sustentam a previsão de 4% no mundo desaceleram.
É esperar pelo pior. Neste cenário, o Brasil sabe que não tem nada a esperar do pacote de Obama e está agindo para se proteger. A equipe econômica e o Banco Central se voltam para o mercado interno, com inflação na meta ou não. O PIB cresceu apenas 0,8% no último trimestre. A prioridade é evitar que a economia cresça menos.
O Banco Central já sinalizou que, na reunião do fim do mês, vai rever para baixo a previsão de 4% para este ano. Algumas revisões já falam de 3%.
Mas tem o comércio exterior, que continua em expansão! Sim, mas ninguém pode contar com ele. A crise externa ainda não o contaminou, dizem alguns analistas míopes.
Até agosto, foram exportados o equivalente a US$ 165 bilhões e importados US$ 146 bilhões, bem acima dos US$ 126 bilhões em igual período de 2010. Nunca se exportou tanto! Mas os números enganam. Tudo isso se deve às vendas de commodities, que não geram emprego onde se produz.
Dependemos dos EUA. Quanto aos manufaturados, o impasse do pacote de Obama acentua um quadro sombrio. É um setor que não deve esperar "ainda mais nada", pois depende essencialmente do mercado americano, confirmam os dados do Ministério do Desenvolvimento. E isso, agora, se agrava diante do impasse do pacote de Obama e maior desaceleração econômica nos Estados Unidos.
Mas não são apenas os Estados Unidos que estão importando menos. É que eles passaram a exportar mais. Na ausência de reação interna, Obama e Bernanke estão intensificando a política de subsídios às vendas externas e a desvalorização do dólar com o aumento da liquidez para exportar mais para a China e o Brasil.
As vendas externas americanas em agosto aumentaram 3,6% e as importações recuaram 0,2%. Essa política está sendo intensificada pelas exportações de manufaturados, o único caminho para gerar empregos com o impasse do pacote de Obama.
O Brasil que se prepare, pois talvez o que já se fez ainda seja pouco. É preciso mais porque não há nada a esperar dos outros.