O governo anunciou ontem medidas que preveem investimentos privados em transporte, ferrovias, portos, rodovias, da ordem de R$ 133 bilhões, dos quais cerca de R$ 90 bilhões em cinco anos. O mercado não se desiludiu porque não esperava mais. A impressão é que o governo ainda não equacionou a questão fiscal para oferecer novas e mais ousadas desonerações para indústria e ao setor produtivo. Juros e credito até agora não se refletiram na decisão do setor privado de investir. Alguns fatores persistem, a elevada carga tributaria, a forte desaceleração da economia mundial e as incerteza quanto ao futuro.
Talvez, por essa limitações fiscais, o governo deixou para anunciar nas próximas semanas a redução das tarifas de energia elétrica - as mais altas do mundo apesar da predominância das hidrelétricas. Esse é um fator primordial na redução dos custos e o aumento de competitividade da indústria nacional.
As novas medidas ficam para setembro. Espera-se também a desoneração mais ampla das folhas de pagamento.
De qualquer forma, o que veio ajuda. O governo prevê a criação de 150 mil empregos, setores importante da industria serão estimulados por novas encomendas. Talvez, o fato mais positivo do pacote dos transportes seja o governo ter reconhecido suas limitações administrativas na execução de obras até mesmo do PAC, transferindo-as agora para o setor privado. Não é privatização - e não haveria nenhum mal se fosse - mas concessões por prazos longos, mas limitados. Portos, estradas, ferrovias, aeroportos, tudo o que está ainda por inovar e construir. É um passo que demorou, mas tudo indica que está vindo e será ampliado. Há recursos fora do governo? Sim, desde que haja regras claras e definidas para grandes investimentos de retorno em médio e longo prazo.
Para os analistas, as medidas agora anunciadas só devem se refletir no PIB de 2013. Precisam ser regulamentadas, analisada, absorvidas e restam apenas quatro meses.
É urgente. Mas o cenário externo recomenda urgência porque a economia mundial se retrai e vacila. Um sinal: o pacote foi anunciado em Brasília apenas dois dias após a Eurozona confirmar que o PIB do bloco recuou 0,2% no segundo trimestre e seis países estão em recessão técnica. O recuo do PIB anualizado foi de 0,7%, informação oficial do Eurostat.
Não muda. Pior ainda: os economistas europeus são unânimes em afirmar que esse quadro não deve se reverter até o segundo semestre do próximo ano por vários motivos:
1 - ele foi provocado essencialmente pela política de austeridade fiscal, falta de investimentos, que desestimulam a demanda;
2 - os governos do bloco continuam insistindo na prioridade fiscal e não no estimulo ao crescimento, que afunda;
3 - a crise financeira se prolonga e o Banco Central Europeu ainda não decidiu como deve agir, agora. Há fortíssima pressão da Alemanha em favor de mais cortes, menos investimentos e mais superávit. Angela Merkel até ficou feliz porque o PIB alemão - acreditem! - "cresceu" 0,3%. Uma festa principalmente porque a segunda economia da Eurozona, a França, ficou em... 0%.
Eurozona pesa muito. Esses resultados cada vez mais negativos são importantes porque o PIB dos 17 países da Eurozona, US$ 13 trilhões, representa mais de 22% do PIB mundial, já afetado pelo baixo crescimento americano. Se somarmos os Estados Unidos, Europa, China e do Japão, todas recuando ou à beira da recessão, temos aí 70% do PIB mundial que resvala este ano para 2,5%, se tanto.
E para agravar esse cenário inquietante e desanimador temos a hesitação dos bancos centrais dos Estados Unidos e da Eurozona, Fed e BCE, que ainda não sabem o que fazer. Ficam esperando pelos governos, que também não decidem nada.
E nós sozinhos. É este o desafio solitário que o Brasil enfrenta no momento. Precisa evitar um PIB de 1,5% este ano e um recuo na margem de emprego. E é aí que se enquadram as novas exigências de mais estímulo econômico, principalmente via setor privado. Ele espera apenas sinais mais claros e decisões do governo imediatas, como mais estímulos à demanda. Estamos sozinhos, não podemos contar com ninguém, como disse certa vez a presidente. Sozinhos e com pressa porque a economia mundial afunda sem que ninguém faça nada lá fora. É aqui e agora ou, como diz aquela frase tao sabia e secular, "se não formos nós, quem será?"