Política
País chega ao pleno emprego e os países ricos demitem
Daniel Wainstein/ValorLuiza Rodrigues: “É bem mais fácil encontrar emprego hoje que nos últimos 20 anos, quando não só o crescimento econômico era menor, como a qualificação era pior”
DO VALOR
O desemprego nas seis principais capitais do país atingiu a taxa mínima histórica de 5,7% no mês passado, mas pode fechar o ano abaixo dos 5% – não só caracterizando um recorde, mas também sinalizando que o país vive em pleno emprego.
Segundo estudos de especialistas no assunto, taxas de desemprego igual ou abaixo de 5% representam uma situação em que, de maneira geral, o trabalhador que sai em busca de um emprego acaba encontrando vaga em algum setor. De acordo com as estimativas da economista Luiza Rodrigues, especialista em mercado de trabalho do Santander, a taxa de desemprego fechará o ano em 4,9%, nível que aprofundará a distância do Brasil em relação a um grupo superior a 20 países, entre desenvolvidos e emergentes.
“Já somos a nação que mais derrubou sua taxa de desemprego entre o pré-crise, no primeiro semestre de 2008, e o pós-crise, no primeiro semestre de 2010. Mas nos distanciamos ainda mais neste segundo semestre”, diz Luiza. A comparação mais simbólica ocorre entre Brasil e Estados Unidos. Enquanto os americanos viram sua taxa de desemprego média saltar de 5,2% entre janeiro e junho de 2008, antes da crise mundial, para 9,7%, em igual período de 2010, o desemprego brasileiro caiu de 8,2% para 7,3%, na mesma comparação.
“De fato, é realmente bem mais fácil encontrar emprego hoje do que nos últimos 20 anos, quando não só o crescimento econômico era menor, como a qualificação era pior”, diz Luiza, para quem a qualificação da mão de obra, um dos possíveis gargalos no horizonte brasileiro nesta década, deve ser visto em perspectiva. “Já tivemos momentos, no passado, em que havia emprego, mas não existiam profissionais à altura. Hoje, temos um número maior de pessoas que terminaram o ensino médio e mesmo o superior, o que facilita a incorporação em setores como comércio, serviços e construção civil”, avalia a economista, que faz referência justamente aos segmentos que mais demandaram trabalhadores na recuperação econômica do pós-crise.
A taxa de 5% ou menos, que deve ser atingida neste mês, no entanto, deve se tornar piso. “A taxa de desemprego continuará em patamares baixos, em torno de 6,5% a 7%, nos próximos dois ou três anos, mas não no ritmo que observamos em 2010, que foi um ano atípico sob qualquer ponto de vista”, avalia Luiza.
Num primeiro momento, a simples desaceleração no ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve frear o ímpeto das empresas por contratação de trabalhadores. O PIB deve passar dos quase 8% de crescimento em 2010 para patamares próximos a 4,5% no ano que vem, segundo estimativas do governo. A desaceleração ocorrerá não apenas porque a recuperação do pós-crise terminou – o PIB de 2009 caiu 0,6% -, mas porque o Banco Central deve iniciar um ciclo de elevação de juros para combater a inflação, que deve fechar o ano em torno de 6% – acima, portanto, da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central. (JV)
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