Política
PIB recua e governo se atrasa - ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 03/06
Esperava-se um PIB no trimestre de 0,5% sobre o anterior e veio 0,2% . Em 12 meses, apenas 1,9%. E nada indica que tenha havido sinais de recuperação em maio. Não há dúvida de que as medidas adotadas até agora para estimular a economia foram tímidas, não deram ainda resultados sensíveis e as que se anunciam estão atrasadas. Fala-se nelas em Brasília há quase um mês.
O ministro da Fazenda afirma que o segundo semestre vai ser melhor. O primeiro foi ruim porque a agricultura e a área de minérios recuaram, principalmente, por questões climáticas. O presidente do Bando Central admite que a recuperação do PIB foi "bastante gradual".
Mas esse ritmo lento de 0,2% indica uma recessão técnica, dois trimestres negativos. Tudo indica que o segundo trimestre já está perdido, mesmo porque o Ministério da Agricultura informou que a safra agrícola que havia recuado 8,5% nos três primeiros meses do ano, vai ser ainda menor. O resultado negativo do trimestre não incorporou a queda da safra de grãos provocada pela seca no Nordeste. Feijão, menos 42%; o milho, menos 59%, só no Ceará.
Mais um trimestre perdido. Maio se foi, junho está aí e mesmo que não se contem apenas os meses, temos um ano ruim, muito ruim, que, se atente para isso, pode piorar com o inevitável agravamento da crise financeira na zona do euro, onde a fuga de capitais chega a níveis assustadores.
Uma leitura atenta dos dados do IBGE mostra o caminho a seguir a partir de agora pelo governo. Só três setores impediram que o PIB fosse ainda pior: gastos do governo, indústria e, principalmente, consumo das famílias, que continua crescendo 1%. O setor mais negativo continua sendo o de investimentos, que caiu 1,8% . É o pior resultado desde a recessão de 2009.
Demônios revisitados. Isso mostra que é hora de chamar os "demônios" dos investimentos externos de volta. Como o setor privado não reage, como o governo não investe - não por falta de recursos, mas porque a máquina parou -, resta atrair de novo os capitais que antes foram rejeitados porque estavam valorizando excessivamente o real. O tsunami foi contido com mais imposto sobre aplicações de curto e médio prazos. Funcionou, mas esses investimentos em carteira, voláteis por natureza, caíram de US$ 17,4 bilhões no primeiro quadrimestre de 2011 para apenas US$ 3,2 bilhões neste ano, segundo dados do Banco Central.
E viva os demônios. Outro demônio a ser chamado de volta são os gastos do governo, que impediram um PIB negativo no primeiro trimestre. Antes, era cortar tudo para aumentar o superávit primário e dar espaço ao corte dos juros. Pois os juros caíram a níveis reais históricos, e a economia não reagiu. O governo cortou R$ 50 bilhões, reinjetou R$10 bilhões, o superávit primário chegou a 3,3% do PIB e nada. Agora, pede-se não mais gastos, mais liberações urgentes em investimentos e mais injeção de dinheiro na economia.
O que os números desanimadores do PIB do primeiro trimestre revelam é que falta injetar mais liquidez, mais recursos na economia para evitar um PIB negativo no segundo trimestre, que se apresenta igualmente recessivo. Mais gastos das famílias, mais desembolsos imediatos do governo, menos impostos e mais facilidades para atrair investimentos externos, abrindo os mares para tsunamis bem-vindos.
Lá fora só se afunda. São medidas cada vez mais urgentes porque o cenário externo aponta para o pior. Os EUA recuam no tímido crescimento de apenas alguns pontos porcentuais, a China desacelera rapidamente e a da zona do euro chegou à implosão. O presidente do BCE, Mario Draghi, afirmou dramaticamente no Parlamento Europeu que " a situação é insustentável ". E isso, um dia depois de a Espanha ter admitido uma fuga nos bancos do país de 100 bilhões em três meses. Em um ano, 200 bilhões. Vai precisar de 500 bilhões para não quebrar.
Que venham. Nesse cenário, os investimentos que hoje rejeitamos estão deixando de vir. Não é só uma consequência do quadro internacional altamente negativo. O desafio é interno. Ou se estimulam gastos, investimentos e demanda interna, ou podemos ter um PIB negativo no segundo trimestre, mesmo porque não se poderá de novo contar com a agricultura. Ela sofre os efeitos da seca e da retração dos preços no mercado internacional.
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