1. Parecia que a presidente Dilma Rousseff ia alterar a política
externa populista do governo Lula. Declarações iniciais sobre direitos
humanos, no caso de uma iraniana condenada a pena cruel, deu
esperanças. Contudo eram só fogos de artifício. O ministro das
Relações Exteriores, Antonio Patriota, pelo tempo que viveu e serviu
nos EUA, sinalizava moderação. Pura ilusão. Apenas sinalizava. Em
pouco tempo, mostrou algo muito diferente.
2. Na decisão do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia, o Brasil
se absteve, com a Rússia e a China. Um aval ao desequilibrado ditador
Gaddafi. Depois veio a pressão sobre o Congresso para rever o acordo
de Itaipu, criando um grave precedente. O explícito chavista Marco
Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência, justificou a
revisão como uma ação "geopolítica". Melhor seria doar esses US$ 300
milhões da revisão do Tratado de Itaipu. A divulgação do conteúdo do
laptop do comandante narcoguerrilheiro Raúl Reyes, evidenciando os
espaços livres para as Farc no Brasil, não obteve do governo Dilma nem
uma linha de preocupação e indicação investigativa.
3. A ostensiva atuação do governo, e do PT, na eleição peruana,
suavizando a imagem do candidato chavista Ollanta Humala e dando-lhe
apoio diplomático (nem tão discreto), foi na mesma direção. Dilma não
quis receber a iraniana Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz. A decisão
do STF sobre o caso do terrorista assassino Cesare Battisti teve claro
envolvimento do governo Dilma, antes e depois, por meio do ministro da
Justiça. Agora, o país enfrenta um constrangimento com os italianos,
que fazem parte da formação econômica e cultural do Brasil
contemporâneo.
4. Dias atrás, o ministro Patriota afirmou que a proposta de
advertência ao governo sírio pela repressão com dezenas de mortos,
apresentada ao Conselho de Segurança da ONU, não contava com o apoio
do Brasil. Em entrevista na sede da ONU, nos EUA, disse com todas as
letras: "Os ataques aéreos da Otan na Líbia causaram hesitação entre
os membros do CS sobre a adoção de ações contra a Síria -país muito
central quando se analisa a estabilidade no Oriente Médio. Ainda
existe uma preocupação sistêmica sobre a implementação da resolução 1
.973 (Líbia). Penso que as preocupações sobre a implementação desta
resolução estão influenciando a forma como as delegações olham para
outras medidas que podem afetar outros países da região -a Síria em
particular. Continuaremos monitorando a situação de perto antes de
adotarmos uma posição sobre esta proposta específica".
5. Em resumo: nada, absolutamente nada, mudou de substancial na
política externa além de uma maquiagem inicial, que logo desbotou.