O risco de quebradeira entre empresas exportadoras, que fizeram operações semelhantes às da Sadia e da Aracruz e agora amargam pesadas perdas, foi tema da reunião de ontem do grupo de coordenação política, do qual fazem parte o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente, José Alencar, e um grupo de ministros. Estimou-se, no encontro, que meia dúzia de empresas estaria nessa situação. A falta de liquidez no comércio exterior foi considerada o reflexo mais grave da crise internacional na economia brasileira. O sistema bancário continua sólido.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, informou na reunião que retomaria a venda direta de dólares das reservas internacionais, como forma de "irrigar" o mercado. Surgiram, porém, questionamentos sobre se o governo não estaria auxiliando especuladores com essa medida.
"O presidente Lula disse que não tem interesse que nenhuma empresa quebre, por isso mandou liberar recursos", relatou ao Estado o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. "Mas ele frisou que não é para torrar as reservas internacionais para alimentar a especulação." José Alencar defendeu posição mais dura. Para ele, as empresas que apostaram na cotação errada do dólar deveriam arcar com as conseqüências e não caberia ao governo socorrê-las. Meirelles disse então que não se tratava de dar dinheiro a elas, mas garantir liquidez com os meios existentes. Ele ponderou ainda que de nada serve manter um nível elevado de reservas, se não for possível utilizá-las em caso de necessidade.
"No final, concordamos que, se precisar de dinheiro de banco oficial para emprestar, é legítimo fazer isso", disse Bernardo. Na sua avaliação, a margem para especulação não é elevada, pois operar com dólares num quadro tão volátil como o atual é manobra arriscada. Além disso, comprar moeda estrangeira iria requerer grandes volumes em reais. "Não tem tanta gente com bala na agulha", afirmou.
Meirelles afirmou na reunião que o Banco Central não fará a venda de dólares tendo como objetivo manter a cotação em um nível preestabelecido. Ele também não especificou quanto das reservas vai gastar.
A reunião de coordenação tinha como tema principal o resultado das eleições municipais. Mas, a pedido de Lula, Meirelles fez uma exposição de cerca de 30 minutos sobre a crise. O foco de preocupação está na Europa, onde as tentativas de coordenação na ajuda às instituições financeiras falharam. É, portanto, mais difícil avaliar o quadro no velho continente do que nos Estados Unidos.
Meirelles disse ao grupo de coordenação política que a medida provisória anunciada na segunda-feira dando ao Banco Central mais poderes para ajudar bancos em dificuldades é preventiva. "O maior temor é de que haja contaminação no sistema financeiro, o que não houve", disse um ministro.
loading...
O GLOBO O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, está com a agenda cheia até outubro. Tem pelo menos umas dez reuniões com economistas e órgãos internacionais em diversas cidades do exterior. "Continuo focado no meu papel de autoridade...
No dizer do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, nenhum país está imune aos efeitos da crise internacional, nem mesmo o Brasil. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, está consciente disso, daí...
Lula orienta Meirelles e Mantega sobre posição do Brasil em reunião do FMI Presidente do BC e ministro da Fazenda viajam nesta quinta para os EUA. Eles também vão para reunião das 20 maiores economias do mundo. Jeferson Ribeiro ...
Bom Dia Brasil Crise chegou ao Brasil por vários canais A crise chegou ao Brasil por vários canais. Em alguns deles, o Banco Central começou a agir. Ela chegou fechando o mercado de crédito que trazia empréstimos externos para financiar exportadores....
Brasil está forte, mas deve passar por acomodação Presidente do BC diz que intervenções no câmbio e na liquidez dos bancos podem voltar a ocorrer e defende que relação dívida/PIB siga trajetória cadente SÉRGIO MALBERGIER EDITOR DE DINHEIRO...