SUELY CALDAS,Erros que custam caro
Política

SUELY CALDAS,Erros que custam caro


O Estado de S.Paulo

Na época, Dilma Rousseff tentava reconstruir sua vida após a prisão e
Lula ainda era diretor suplente do Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo. Era o fim do governo Médici e o então ministro da Fazenda,
Antonio Delfim Netto, mandou a FGV reduzir na marra a inflação para
adequá-la ao clima de otimismo do "milagre econômico". A manobra
consistia em a FGV transportar mecanicamente para o índice os valores
de um autoritário e fantasioso tabelamento de preços decretado pelo
governo e solenemente ignorado por industriais, comerciantes e
consumidores. As lojas exibiam na parede o valor tabelado, mas vendiam
pelo dobro, às vezes o triplo.

Governo Geisel, 1974, o sucessor de Delfim, Mario Henrique Simonsen,
denunciou publicamente a farsa e corrigiu os números da inflação. A
população pagou o preço do arrogante erro, a começar pelos
trabalhadores, que tiveram salários achatados, corrigidos que eram
pelo falso índice. O que moveu Médici e seu ministro? Diferentemente
do austero Geisel, Médici era um militar populista: se na política a
truculência da ditadura não ajudava, pelo menos na economia queria
deixar um legado que lhe rendesse elogios, não importava se falso. Foi
também o populismo delirante que motivou o ex-presidente Lula a fazer
planos de investimento mirabolantes para a Petrobrás. Para agradar a
eleitores e aos caciques políticos de sempre, prometeu construir um
complexo petroquímico no Rio (Comperj) e três refinarias - no
Maranhão, no Ceará e em Pernambuco. Investimentos bilionários, que
logo começaram a consumir dinheiro com as pomposas inaugurações da
pedra fundamental - bem ao gosto de Lula. Só que as obras das
refinarias do Maranhão e do Ceará não saíram do papel e a de
Pernambuco e o Comperj tiveram seus cronogramas adiados várias vezes e
os orçamentos iniciais quadruplicados (de 2011 a de Pernambuco foi
adiada para 2014 e seu custo saltou de R$ 4 bilhões para R$ 17
bilhões).

Como Simonsen em 1974, Graça Foster, em 2012, logo tratou de corrigir
o erro, rever o plano de investimentos da estatal e nele aplicou um
choque de realidade, afastando os delírios de Lula. Das refinarias só
restou a de Pernambuco, e o Comperj, por enquanto, vai ficar com seus
canteiros sugando dinheiro da Petrobrás, sem data definida para
terminar. Ao corrigir o erro, Foster tenta recuperar a confiança de
potenciais investidores e dos mais de 500 mil acionistas que apostaram
dinheiro na empresa e ameaçam abandoná-la. O castigo imposto pelos
governos Lula e Dilma à Petrobrás está reduzindo seu valor a pó. Da
área de petróleo ela é a mais desvalorizada do mundo, vale menos do
que a colombiana Ecopetrol, que não tem um quarto de seu tamanho. O
realismo nos investimentos e o minguado reajuste dos combustíveis foi
o que Graça Foster conseguiu arrancar do governo nessa primeira
investida para tentar recuperar a empresa. Mas o mercado reagiu mal,
considerou insuficiente e derrubou o preço das ações. Tomara que seja
só o começo.

Erros políticos como os de Médici e Lula levam tempo para consertar. O
populismo é assim mesmo: foca o curto prazo para ganhar dividendos
políticos rápidos e causa enormes estragos no longo prazo. Dilma
parece ser diferente de Lula nesse aspecto. Por isso é inexplicável
essa estratégia desesperada de recuperar o crescimento econômico
focando só em ações de efeito rápido que, na verdade, tiveram seu
tempo esgotado e têm se mostrado inúteis. Depois de passar mais de um
ano atirando a esmo e errando o alvo, Dilma parece ter se convencido
de que o investimento é o mais poderoso indutor do crescimento. Mas
pouco ou nada fez para afastar os entraves estruturais que, desde
Lula, freiam o investimento privado. O próprio IBGE alertou em
pesquisa na quinta-feira: a rodada recente de incentivos do governo
não impulsionou novos negócios.

Assim, dia sim outro também, as previsões para o PIB em 2012 são
refeitas ladeira abaixo e já chegam a 1%. Até o Banco Central reduziu
a sua de 3,5% para 2,5%, no dia seguinte em que o ministro Guido
Mantega garantiu que o País vai crescer "acima de 2,5%".



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