Política
Há espaço para cortar mais - ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 19/08A economia voltou a crescer em junho, tímida, mas indicando que o pior, aquele PIB zero em maio, passou. O índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado na sexta-feira, foi de 0,75%. É o melhor resultado em 14 meses. Mais consumo, mais compras e até mais emprego depois de um primeiro semestre desanimador.Mas isso poderá se sustentar a ponto de terminarmos o ano com um trimestre de 4%, como o ministro da Fazenda prevê? Alguns analistas continuam cautelosos, pode ser apenas um repique passageiro que desaparece quando os estímulos acabarem. Outros apontam que as últimas ações do governo, como as privatizações ou, se quiserem, parceria público-privada (pouco importa o nome), que ainda demoram, só trarão resultados no segundo semestre do próximo ano.E isso se as licitações ocorrerem bem, sem as ações ambientais que certa vez jogaram os bagres dos rios da Amazônia no colo do presidente atrasando o início de obras importantes. E haja bagre nos rios ambientais brasileiros...O que houve. Para avaliar o que poderá ocorrer nos próximos meses, é preciso entender por que as vendas no varejo aumentaram 6,1% em junho sobre o mês anterior, mostrando que o consumo das famílias voltou a crescer com força. Seria isso sustentável?Os números do IBGE dão a resposta. O crescimento se deu nos setores em que o governo reduziu impostos, como veículos, autopeças, nada menos que 16,4%, móveis e eletrodomésticos para as novas casas. O único recuo foi na compra de produtos de informática e comunicação perfeitamente justificáveis pela forte expansão anterior. Há o dobro de celulares que habitantes no Brasil. Os números do IBGE mostram também que os consumidores não estão com medo da crise externa, de perder o emprego. Reagiram imediatamente aos estímulos de curto prazo do governo que reduziram os preços e aumentaram os prazos de financiamento. Parece que a inflação de 5%, que poderia corroer o poder aquisitivo das famílias, está sendo compensada pelo expressivo aumento da renda. As famílias estão consumindo mais apesar de a economia estar crescendo menos, porque os preços recuaram com a ajuda do governo. É isso o que diz a pesquisa do IBGE. A dúvida é saber se isso vai se manter quando os incentivos forem reduzidos ou acabarem.Dá para continuar? Essa é a questão. O ministro Guido Mantega afirmou nesta sexta-feira, em São Paulo que o governo continuará cortando impostos para estimular a economia. "Reduz preços, incentiva a demanda e ajuda a inflação", afirma ele. Está dando certo. O governo parece consciente dos efeitos negativos da elevada carga tributária sobre a atividade econômica. Mas o ministro não fala nas limitações na margem de manobra da equipe econômica sem alterar a política fiscal, o superávit primário, hoje de 3,1%. Lembrou apenas que até o fim do ano as desonerações deverão chegar a R$ 45 bilhões, o PIS-Cofins, R$ 7 bilhões.Meses de definição. Até agora o que estamos vendo é um mês de agosto cheio de boas notícias, como a abertura para os investimentos privados e dos Estados, a atração de recursos externos, forte incentivo à demanda. Falta a questão fiscal, o dilema que ainda persiste. Onde buscar os recursos? É esse o ponto crucial: manter ou não o superávit primário de 3,1%, com a economia recuando. Por enquanto, tudo é silêncio em Brasília. Silêncio ou surdina. Se alguém já decidiu sobre investir mais, gastar mais, cortar mais impostos e, por enquanto, poupar menos, ainda não disse.E então? Se quiser que o PIB cresça a 2% este ano, o governo terá de avançar nos próximos meses. Reduzir os impostos sobre consumo, investimentos, elevar o crédito - possível porque a inadimplência recua com os novos prazos e a renda -, enfim, adotar um franca política fiscal e monetária expansionista com mais liquidez e juros menores. Mas pode? Mantega não foi específico quanto a isso, nesta sexta-feira, mas deu a entender que sim, que a política fiscal equilibrada, superávit elevado, aumento do crédito, juros ainda altos e reservas cambiais permitem isso. Vai agir. Para a coluna foi como dizer: "É só não ficar espalhando por aí para não criar ondas e marolas. É o que se poderia chamar de transparência na surdina..." A gente faz mas não fala muito.
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